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Amido é um nutriente essencial para vacas leiteiras?

POR ALEXANDRE M. PEDROSO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/10/2014

7 MIN DE LEITURA

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A pergunta que dá título a este artigo foi tema de uma palestra ministrada pelo Dr Mike Allen, da Universidade de Michigan, durante a Discover Conference sobre Amido para Ruminantes, que aconteceu no início de outubro nos EUA. Foi um evento fantástico, do qual tive oportunidade de participar. Logo que assisti à palestra do Dr. Allen pensei que seria um bom assunto para tratar neste Radar. Então vamos lá:

O uso de amido na dieta de vacas leiteiras é pratica corriqueira em qualquer fazenda leiteira, uma vez que a principal fonte desse carboidrato é o milho. Apesar de ser um assunto pra lá de batido, há vários aspectos que muitas vezes deixam de ser considerados. Muita gente não admite uma ração para vacas leiteiras sem ver o amarelo do milho na mistura, mas será que o amido é de fato indispensável? Depois de assistir à palestra do Dr. Allen minha resposta a essa pergunta é: depende...

Como mostrado na palestra em questão, há situações em que o uso de amido é imprescindível para se conseguir alta produtividade das vacas, especialmente para vacas de alta produção. No entanto, quando lidamos com rebanhos ou lotes de vacas com produção média abaixo de 20-25 kg leite/dia isso pode não ser verdade, como mostram alguns trabalhos de pesquisa recentes, em que os grãos de milho da dieta de vacas leiterias foram substituídos por subprodutos da agroindústria, como a casca de soja. Fica evidente que para produções acima dos 30 kg de leite ao dia há resposta positiva ao aumento da inclusão de amido nas dietas, basicamente na forma de grãos de milho.

Mesmo com a vasta base de dados de que dispomos hoje, ainda não é possível definir um nível ótimo de amido na dieta das vacas. Isso vai depender dos outros ingredientes utilizados, por exemplo, da concentração de outros carboidratos e de proteínas. Também é preciso saber a forma como esse amido se apresenta, definida basicamente pelo método e intensidade de processamento dos grãos. O amido de grãos de milho inteiro é menos degradável que o amido de grãos moídos, que por sua vez é menos degradável que o amido de grãos ensilados com alta umidade. Com isso, queremos dizer que cada caso é um caso, ou seja, o nível ótimo de amido varia em função das características dos alimentos utilizados, e do nível de produção das vacas.

Em dietas de vacas de alta produção, em sistemas de confinamento, o amido pode representar até mais de 35% da MS total consumida pelas vacas, sendo que invariavelmente a quase totalidade desse amido vem dos grãos de cereais. A degradabilidade ruminal do amido é extremamente variável, de menos de 50 a mais de 90%, sendo determinada pela taxa de degradação e tempo de retenção dos alimentos no rúmen. A digestibilidade aparente do amido é cerca de duas vezes superior à digestibilidade da fração fibrosa (FDN) para vacas leiteiras, de forma que sua utilização normalmente aumenta o teor energético das dietas e reduz o efeito de enchimento do rúmen.

No entanto, esse aumento pode ser menor do que se espera, pois via de regra quando se substitui fibra (FDN) por amido (concentrado) em dietas de vacas leiteiras, a digestibilidade total da FDN diminui. Isso ocorre principalmente em função da queda no pH ruminal das vacas que recebem mais concentrado. Por um lado há o ganho energético, e por outro pode haver prejuízo no aproveitamento da forragem. O objetivo é buscar um equilíbrio a fim de maximizar o desempenho dos animais. Outro ponto a ser considerado é que em função desse efeito sobre o pH ruminal, fontes de amido altamente degradáveis podem causar redução no consumo total de matéria seca, o que é altamente indesejável.

Com isso, como fazer para formular corretamente as dietas com relação ao amido? Na verdade os nutricionistas consideram não só o amido, mas todo um grupo de carboidratos que são digeridos de forma semelhante ao amido, chamado de Carboidratos não Fibrosos (CNF). Nesse grupo são considerados além do amido, os açúcares simples, a pectina, ácidos orgânicos e a porção solúvel da FDN. De uma combinação entre resultados de pesquisas e experiências de campo, desenvolveu-se uma tabela prática para uso em formulações de dietas para vacas leiteiras. Cada nutricionista costuma ter os seus parâmetros, e a tabela abaixo mostra os valores nos quais me baseio para formular dietas de vacas em lactação

Tabela 1. Recomendações de carboidratos para vacas leiteiras

1 = FDN fisicamente efetiva

Infelizmente ainda não temos parâmetros consistentes definidos nas condições brasileiras. De qualquer forma, as recomendações acima servem bem como guia para formular dietas de vacas leiteiras em nossas condições.

Teores de CNF acima de 40% da MS são perigosos, especialmente se as condições de manejo na fazenda não forem muito boas. Esse limite é ditado pela maior possibilidade de ocorrência de distúrbios como acidose ruminal, resultado do excesso de CHO de fermentação rápida no rúmen, principalmente o amido. Dessa forma, a determinação da concentração ótima de CNF nas dietas de vacas leiteiras depende de alguns fatores, tais como:

1) Os efeitos da velocidade de degradação do amido sobre a digestão de fibra no rúmen;
2) Características da FDN;
3) Consumo de MS.

Se a degradação ruminal do amido for muito rápida, certamente haverá prejuízo a digestão da fibra. Em nossas condições, em que grande parte das vacas são mantidas em pastagens na maior parte do ano, excesso de fermentabilidade de carboidratos não parece ser um grande problema, mesmo em rebanhos de alta produção, com alta demanda nutricional, pois o alto custo médio dos grãos de cereais em nosso país muitas vezes inviabiliza rações com alto teor de amido. Além disso, a forma mais comum de utilização do milho é na forma moída, muitas vezes com tamanho médio elevado de partículas, de fermentabilidade não tão elevada.

Outro ponto a se considerar é que o milho brasileiro é de textura dura, sendo menos degradável no rúmen que o amido de grãos americanos. O tamanho de partícula das forrageiras ensiladas também é freqüentemente grande, resultado de falhas na moagem, contribuindo positivamente para a efetividade física da fibra, e minimizando o problema de um possível excesso de CNF. Além disso, a presença freqüente de grãos inteiros nas silagens também reduz a disponibilidade do amido no rúmen. O alto teor de fibra das forrageiras, associado ao uso freqüente de subprodutos fibrosos nos concentrados, normalmente resulta em rações onde o teor de FDN total é alto e, conseqüentemente, resulta em teor de CNF abaixo daquele capaz de induzir acidose. O maior problema da vaca brasileira não é acidose ruminal, e sim falta de energia, tanto para os microorganismos do rúmen quanto para o animal.

Também interessante é o fato de que a relação ótima entre amido e fibra na dieta depende da efetividade da fibra. Em dietas com teor relativamente baixo de fibra efetiva, que causam naturalmente uma redução no pH ruminal, a inclusão de amido deve ser mais conservadora, a fim de não prejudicar a digestão de fibra. Já em dietas com teor mais elevado de fibra efetiva, é possível a inclusão de teores mais elevados de amido na MS.

A substituição dos grãos de cereais por concentrados fibrosos, que são pobres em amido, mas bastante ricos em fibra altamente digestível, como é o caso da casca de soja, farelo de glúten de milho e farelo de trigo, especialmente para vacas de produção mais baixa, é perfeitamente possível. Logicamente as características desses subprodutos são muito diferentes, e isso precisa ser considerado quando se formula dietas para vacas leiteiras. Com isso em mente, em dietas que levam subprodutos, os níveis de amido podem ser sensivelmente reduzidos. No entanto, o Dr. Allen mostrou em sua palestra alguns dados de trabalhos de pesquisa em que o uso de subprodutos em substituição ao milho não afetou a produção de leite, mas observou-se um grande efeito negativo sobre peso vivo e escore de condição corporal (ECC). À medida que aumentava a inclusão dos subprodutos em substituição à fonte de amido, as vacas passavam a perder peso e ECC. E é preciso notar que um desses trabalhos foi realizado na Europa, com vacas produzindo em média 18 kg de leite ao dia.

De tudo o que foi exposto neste radar, podemos ficar com as seguintes mensagens: em dietas de vacas de alta produção, a alta inclusão de amido (acima dos 30-35% da MS total) aumenta o teor energético da dieta, mas pode colocar os animais em risco de acidose, o que pode reduzir o CMS, de forma que a ingestão de energia fique comprometida. Quanto maior o teor de fibra efetiva, mais espaço há para se utilizar grãos de cereais, já que nessa condição o animal produz mais saliva, o que equilibra melhor o pH ruminal, prevenindo quedas drásticas no consumo. Quando de utiliza subprodutos fibrosos, é possível se obter níveis adequados de desempenho para vacas de produção mais modesta, mesmo com baixa inclusão de amido (abaixo de 25% da MS total). No entanto é preciso equilibrar bem a dieta, e ficar atento às características de cada subproduto, e à possível perda de peso e ECC com a inclusão dos subprodutos.

Em qualquer situação, a qualidade da fibra é determinante do desempenho. Quanto maior a digestibilidade da FDN da dieta, menor a necessidade de inclusão de grãos. Infelizmente há poucos trabalhos avaliando diferentes teores de amido em dietas de vacas leiteiras mantidas em pastagens, e os poucos dados disponíveis são inconclusivos. De qualquer forma, todos os princípios discutidos aqui são válidos para o manejo alimentar de vacas a pasto, é só usar o bom senso.



 

ARTIGO EXCLUSIVO | Este artigo é de uso exclusivo do MilkPoint, não sendo permitida sua cópia e/ou réplica sem prévia autorização do portal e do(s) autor(es) do artigo.

ALEXANDRE M. PEDROSO

Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência Animal e Pastagens, especialista em nutrição de precisão e manejo de bovinos leiteiros

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HUMBERTO CAMARGO

BOTUCATU - SÃO PAULO - ESTUDANTE

EM 31/12/2020

Parabéns pelo excelente conteúdo apresentados, professor!!
CARLOS ALBERTO DA SILVA

GOIANÉSIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/10/2014

Sou um agricultor família, trabalhamos muito com fabricação de farinha e polvilho de mandioca. Gostaria de saber se poderia trabalhar com os subprodutos, casca, ramas, folhas e nata amarela do polvilho.
ALEXANDRE M. PEDROSO

PIRACICABA - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 23/10/2014

Olá pessoal. Peço desculpas pela demora em me manifestar em relação aos comentários, estive viajando direto nas últimas semanas. Vou tentar resumir tudo aqui:



- Obrigado a todos pelos elogios!



- Claudio, concordo com você. O que manda é a eficiência econômica, mas não podemos descuidar da saúde das vacas. Milho barato é um convite ao excesso, o que pode gerar prejuízos significativos posteriormente. Quando o preço está bom, o negócio é usar o máximo possível, sem comprometer a saúde das vacas.



- Meu caro Regis, infelizmente não pude participar do Formuleite, uma pena. Realmente a seca do verão passado - que na verdade está persistindo até agora - gerou enormes dificuldades para muitos produtores de leite, e por consequência para todos os técnicos que trabalham com essas fazendas. Estamos todos tendo que "rebolar" para manter as vacas produzindo bem e com boa saúde!



- Marco, a mi parece que su formulación es correcta, habría que evaluar en detalle con el AMTS. Sin embargo, este no es el foro apropiado para discutir situaciones particulares, pero si tienes interes, podemos intercambiar informaciones por correo electrónico. Mi correo es ampedroso@cowtech.com.br



- Ueverson, meu endereço está acima, por favor envie suas sugestões!
UEVERSON MARTINS DA SILVA

ITUIUTABA - MINAS GERAIS - ESTUDANTE

EM 23/10/2014

Dr Alexandre boa tarde. Tenho em mente algumas ideias que poderias se tornar fontes de pesquisa em relação ao amido fornecido para ruminantes, será que poderia me passar seu email para que possamos falar? Grato ueversondasilva@hotmail.com
BÁRBARA CAROLINA VEIGA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 15/10/2014

Olá Pessoal,



Para saber mais sobre Nutrição em Bovinos Leiteiros, participem de nosso curso online que está sendo ministrado pelo Alexandre M. Pedroso.



Acesse: https://www.agripoint.com.br/curso/nutricao-leite/ e matricule-se!



Mais informações: (19) 3432-2199 ou barbara@agripoint.com.br.
ALBERTO DUDA

PONTA GROSSA - PARANÁ - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 12/10/2014

Excelente Artigo. Atualmente  muitos produtores acreditam que a melhor a ração é aquela "amarelinha " , fato pelo qual encontramos muitos casos de acidose nos rebanhos, aliada a falta de fibra efetiva.
MARCO FIGUEROA

PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 10/10/2014

Excelente articulo Dr. Pedrozo,que opina Ud. en base a sus reflexiones  formular para vacas de producción de 5.500 lit leche año, pastoreando capim Mombaza de 30 días con un CMS entre 8 a 10 kg/día , 12 a 15 kg húmedo silage de Maíz con 25% granos entre 30 a 35% MS tamaño de partícula promedio 2 a 2.5 cm; 2 hasta 3.5 kg de Maiz molido+ 0.5 hasta 0.75 kg harina de soja (dependiendo del nivel de lactancia) +sales proteinadas, en vacas entre 480 a 530 kg PV, condiciones tropicales muy similares a las de Uds en el norte de Brasil, . Mi punto de vista y coincido con Ud. es el CMS , que es bajo, porque debo formular en base a Digestibilidad de FND de la Fibra total para poder balancear teóricamente los niveles de Energía y Proteína. Obrigado.
REGIS JOSÉ DE CARVALHO

CARMO DO RIO CLARO - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/10/2014

Olá Alexandre. Em agosto passado no Formuleite da UFLA, coordenado pelo professor Marcos, tivemos dois dias reunidos sobre este assunto, com nomes reconhecidos na nutrição sobre o tema. Estamos tendo na nossa região em virtude da falta de chuvas no verão passado, ingredientes, principalmente a silagem de milho com baixo teor de amido. Vemos nas análises da dieta total e dos produtos uma severa diminuição. Então acabamos tendo que aumentar o uso de fubá e/ou grão umido ou outro sub-produto, na dietas das vacas para atingirmos boas produções. Mas também fica claro que forragem de alta digestibilidade melhora bastante a performance de produção dos animais.

Parabéns pelo artigo.

Abraços.

Régis
HIBERNON CAVALCANTE ALBUQUERQUE

MACEIO - ALAGOAS - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 09/10/2014

Parabéns pelo artigo  Dr. Alexandre. Gostaria de sua opinião sobre substituição de parte do milho por mandioca in natura( que está com cotação abaixo de R$ 200,00/t) na nossa região Nordeste, quando a cotação do milho gira entre R$ 32,00 a R$ 36,00, considerendo rebanhos acima de 15l em média.    
CLAUDIO WINKLER

CARAMBEÍ - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/10/2014

A análise e a reflexão a respeito do tema são de fato interessantes. Porém, é preciso levar em conta a questão do custo, e aí, com os atuais preços pagos pelo milho (e a tendência destes se manterem pelos próximos meses) fica muito difícil justificar uma retirada deste da dieta.
RENATO TÂNGARI DIB

GOIÂNIA - GOIÁS - ZOOTECNISTA

EM 08/10/2014

Parabéns, pelo excelente artigo.

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