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Manqueiras em vacas leiteiras: Biomecânica e Fatores de Risco - Parte 2

VÁRIOS AUTORES

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/07/2015

10 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 24/08/2022

Por Paulo Marcos Ferreira - Professor aposentado da EV UFMG; Antônio Último de Carvalho e Elias Jorge Facury Filho - Professores da disciplina Clínica de Ruminantes da EV UFMG; Rodrigo Melo Meneses - Aluno de doutorado da EV UFMG; Marina Guimarães Ferreira - Aluna de pós-doutorado da EV UFMG e Rafael Guimarães Ferreira - Médico veterinário autônomo.

A primeira parte desse artigo foi publicada no dia 17/06.

Higiene relacionada com doenças de cascos

O tecido córneo dos cascos necessita de umidade para manter a elasticidade. Se mantido em condições muito áridas, a parede do casco pode rachar, formando fissuras chamadas “fendas de areia”. Esta condição praticamente não ocorre nas criações de gado de leite. O esterco mantém a umidade, mas possui agentes químicos que podem danificar o tecido córneo do casco, além de ser um reservatório de microorganismos que podem infectar a pele e os pés. Quando as vacas estão no pasto, os pés são frequentemente limpos por ação mecânica e há menor contaminação com esterco. Por outro lado, quando confinadas, estão sob maior risco de exposição à umidade e matéria orgânica.

Nas explorações de leite semi-intensivas, frequentemente, as vacas são mantidas a pasto no verão e estão expostas a matéria orgânica e umidade nas trilhas, corredores e ao redor e dentro das instalações de ordenha. É importante estar atento ao grande acúmulo de barro que ocorre embaixo de áreas de sombra, tanto naturais quanto artificiais (sombrites). Adequar sombra e ambiente seco durante o verão é um grande desafio. No inverno, estes animais são confinados em pistas de alimentação que, invariavelmente, apesar do clima seco, apresentam acúmulo de esterco e urina. A situação pode se complicar ainda mais quando as vacas permanecem ao redor dessas pistas, durante o início do período chuvoso, aguardando a rebrota dos pastos, o que ocasiona formação excessiva de barro.

O excesso de umidade e a presença do esterco causam amolecimento do casco, ocasionando maior desgaste, quebra da integridade da pele acima e entre as unhas e erosão do tecido córneo. Essas alterações, somadas à alta concentração de microorganismos no ambiente, predispõem às lesões podais por causas infecciosas como: dermatite digital, dermatite interdigital, flegmão interdigital, hiperplasia interdigital e erosão de talão. As lesões são mais frequentes nos pés dos membros posteriores, pois permanecem mais tempo em ambiente úmido e com esterco do que os anteriores, quer seja nas pistas de alimentação ou na cama do “Free stall” ou em “Tie stall”.

Tipo e qualidade dos pisos

Na natureza as vacas pisavam sobre pastagens de gramíneas, que eram macias, absorviam bem a pressão dos pés e limpavam mecanicamente os cascos. Desta forma, um piso elástico, higiênico e que permita um balanço entre desgaste e crescimento dos cascos seria o ideal para evitar lesões podais.

Nos confinamentos os pisos são geralmente de concreto, que é barato, resistente e permite fácil limpeza, porém é duro e não absorve a pressão exercida pelos cascos. Piso de concreto muito liso torna-se escorregadio, causando instabilidade na caminhada das vacas e, frequentemente, quedas predispondo a fraturas ou a lesões articulares como as luxações coxo-femorais. Por outro lado, se forem rugosos, são abrasivos, provocando um desgaste excessivo dos cascos.

Nas instalações novas os pisos tendem a ser muito abrasivos, e com o uso eles tendem a se tornarem lisos. Pisos úmidos aumentam em até 83% o desgaste da sola. O desgaste excessivo, ou seja, maior que o crescimento, dá origem a uma sola fina, macia e plana e predispõe a lesões como: úlceras de sola e de pinça, doença da linha branca e abscesso subsolear, além de perfurações por pedregulhos. Essa situação ocorre com alta frequência em vacas recém-paridas e, principalmente, em primíparas criadas exclusivamente a pasto e transferidas, sem preparo, para confinamentos com piso de concreto. A situação pode ainda se agravar se o projeto das instalações exigir grandes deslocamentos diários.



Nos sistemas de criação a pasto, atenção especial deve ser dada aos corredores e trilhas, nos quais a presença de pedras, corpos estranhos e irregularidades são frequentes e responsáveis por traumatismo e formação de hemorragia de sola. Nos corredores, é frequente a formação de “costelas” durante o período chuvoso, obrigando os animais a aumentar a altura do passo. Esse movimento pode predispor a lesões altas, especialmente, na articulação do jarrete.

Biossegurança

Os agentes infecciosos, causadores de lesões podais, podem ser introduzidos nas propriedades pela compra de animais com doença clínica ou portadores assintomáticos. Um bom exemplo é a dermatite digital, que foi descrita pela primeira vez em 1984, na Itália, e em 20 anos se espalhou para todas as regiões. Em nosso meio, os trabalhos apontam prevalência de 30% para esta enfermidade.

O aparo funcional dos cascos das vacas leiteiras é uma rotina de prevenção das enfermidades não infecciosas, objetivando melhor distribuição de peso entre as unhas e retirada de lesões iniciais. Essa prática, porém, tem sido associada com a disseminação de doenças infecciosas dos cascos, especialmente a dermatite digital. O material utilizado no casqueamento, quando sujo e infectado, funciona como transmissor de agentes microbianos entre animais e entre fazendas. Além disso, quando o casqueamento é realizado por pessoas não treinadas, pode ocorrer retirada excessiva de sola, predispondo a lesões traumáticas.
Manter um rebanho fechado e com bom nível de higiene é o melhor modo de prevenir a entrada de agentes infecciosos causadores de manqueira.

Alimentação

Quadros de acidose ruminal subclínica são responsáveis por alterações sistêmicas e participam na etiologia das laminites, enquanto as deficiências minerais e de vitaminas podem determinar alterações na produção e na qualidade do tecido córneo.

A acidose ruminal subclínica se caracteriza pela produção e manutenção no rúmen de altas concentrações de ácidos graxos voláteis (AGVs), com aumento relativo de ácido propiônico e butírico, em detrimento do acético. O pH ruminal mantém-se na faixa de 5,0 a 5,5 várias horas por dia, durante períodos prolongados. Esta síndrome está relacionada aos seguintes fatores:

  • Alimentação rica em concentrado, especialmente carboidratos não estruturais que, na fermentação ruminal, ocasionam a produção de grandes quantidades de ácidos por unidade de tempo;
  • Falta de adaptação às dietas, acarretando pequeno desenvolvimento papilar na parede do rúmen e, consequentemente, reduzida absorção e metabolismo dos AGVs ruminais;
  • Dietas pobres em fibra efetiva, responsáveis por estimular a ruminação e incrementar a produção e ingestão de saliva que, por sua vez, contribui para o tamponamento e manutenção do pH ruminal (bicarbonato, fosfato e uréia);
  • Manejo alimentar incorreto: ingestão seletiva de grandes quantidades de concentrado, falta de adaptação à dieta, concentrado fornecido separado do volumoso em poucas refeições por dia, etc... 

Na acidose ruminal subclínica ocorre liberação de substâncias vasoativas (histamina, mediadores inflamatórios e endotoxinas) em função da inflamação da parede ruminal e da morte de bactérias Gram-negativas. Estas substâncias causam alterações hemodinâmicas no cório do casco, levando a congestão, hemorragias, isquemia e trombose que, aliadas a fatores ambientais que acarretam sobrecarga e desgaste excessivo dos cascos, são responsáveis pela instalação de laminite subclínica e suas consequências: hemorragia de sola, úlceras de sola e de pinça, doença da linha branca e deformação das unhas.



Vários minerais participam na síntese, qualidade e preservação do tecido córneo, com destaque para o zinco, cobre, cálcio, selênio e manganês. Dentre as vitaminas, destacam-se a A, D, E e a biotina.

O zinco participa da atividade de diversas enzimas e favorece a integridade dos cascos, por acelerar a cicatrização das feridas, aumentar a velocidade de reparação do tecido epitelial e manter a integridade celular. Esse mineral é ainda necessário para a síntese e maturação da queratina.

A biotina participa da atividade de enzimas que são responsáveis pela lipogênese (formação de lípides), que é importante na síntese do cimento intercelular que estabelece a adesão entre as células córneas do casco. A deficiência de biotina pode ocorrer em vacas com acidose ruminal subclínica, pois ela é sintetizada pelas bactérias do rúmen. A suplementação de biotina para bovinos aumenta a adesão entre as células córneas, melhorando a resistência do casco.

Manejo dos animais

As vacas devem se movimentar livremente nas trilhas e corredores. Quando apressamos seus passos por meio de gritos, pedradas ou utilizando cães, alteramos seu deslocamento, favorecendo a sobrecarga em algumas unhas e não permitindo a elas escolher o melhor caminho a seguir, ou seja, desviando de obstáculos como pedras, pedaços de madeira, tocos e outros. Se observarmos o comportamento das vacas, em um corredor de concreto onde se coloca uma esteira de borracha comprida e estreita, notaremos que logo se forma uma fila e todas passam a caminhar sobre a esteira, evitando o concreto duro. O mesmo acontece nas trilhas de piso de terra com cascalho. Se lhes for dada opção, as vacas evitam pisar em piso duro e com pedras, escolhendo caminhos cobertos por vegetação.

A introdução de primíparas e vacas recém-paridas em lotes previamente formados requer um tempo de adaptação para evitar disputas pela hierarquia social, com prejuízos para o animal recém-chegado, como: movimentos involuntários de fuga e disputas, maior tempo em pé e menor ingestão de alimentos.

Fatores relacionados ao período de transição

O período de transição de vacas leiteiras é compreendido entre três semanas antes e três semanas após o parto, e é caracterizado por intensas mudanças nutricionais, metabólicas, imunológicas e hormonais. Ainda, é durante esse período que as vacas estão sujeitas a condições de manejo e ambientais adversas, resultantes da passagem de vaca seca para vaca em lactação. Diante desses diversos fatores, o tecido córneo do casco, formado nesse período, pode ser menos resistente às condições em que esses animais são submetidos.

Hormônios como prolactina, de extrema importância para o início da lactação, e glicocorticoides, importante para que a prolactina desencadeie sua ação no tecido mamário, porém de capacidade depressora do sistema imune, têm os seus picos no dia do parto e interferem na qualidade do casco por meio da redução da síntese de queratina (proteína estrutural do tecido córneo). Do ponto de vista nutricional, os aminoácidos tais como cistina, histidina e metionina desempenham papeis importantes na integridade da célula produtora de queratina, assim como os minerais e vitaminas.

No início da lactação, além desses elementos, a demanda energética encontra-se aumentada, resultando em mobilização de gordura para suprir tal necessidade. Isto reflete em redução do tecido gorduroso corporal, inclusive daquele presente no coxim digital, diminuindo a absorção do impacto durante a locomoção do animal. Além disso, em um estudo realizado recentemente, observou-se que vacas com maior mobilização de gordura corporal no pós-parto apresentaram sola mais macia.

De ordem metabólica, um exemplo é o mecanismo de equilíbrio do cálcio no sangue, que é intensamente acionado no periparto, uma vez que a maioria das vacas recém-paridas apresenta algum grau de hipocalcemia. Diante do papel fundamental que esse elemento desempenha sobre o processo de formação da queratina, isso se torna preocupante. No estudo citado acima, observou-se correlação positiva entre o crescimento da muralha e a dureza da sola com as concentrações de cálcio no pós-parto, ou seja, vacas que apresentaram níveis de cálcio sanguíneo abaixo do normal tiveram menor crescimento da muralha e uma sola menos dura. Adicionalmente, animais com baixas concentrações de magnésio no sangue tiveram maior taxa de desgaste do casco.

Tudo isso ocorre, simultaneamente, em um período no qual as vacas se encontram com a imunidade comprometida, tornando-as menos competentes para responder de forma eficaz aos agentes infecciosos.

Considerações finais

As alterações do sistema locomotor dos bovinos resultam de um somatório de fatores predisponentes que atuam concomitantemente e, portanto, exigem várias medidas para seu controle. Várias destas medidas se fundamentam no conhecimento dos padrões de comportamento das vacas de leite e no respeito ao seu bem estar.

Quadro 1: Áreas chaves de fatores de risco externos para manqueiras das vacas de leite. (Adaptado de Mulling et al, 2006)


Esse artigo foi originalmente publicado na Revista Leite Integral, edição 71 - fevereiro 2015. 

ARTIGO EXCLUSIVO | Este artigo é de uso exclusivo do MilkPoint, não sendo permitida sua cópia e/ou réplica sem prévia autorização do portal e do(s) autor(es) do artigo.

ANTONIO ULTIMO DE CARVALHO

RODRIGO MELO MENESES

Possui graduação em Medicina Veterinária e especialização em Clínica e Cirurgia de Grandes Animais pela UFV. Mestre em Ciência Animal pela UFMG e atualmente é aluno de doutorado nessa instituição.

RAFAEL GUIMARÃES FERREIRA

ELIAS JORGE FACURY FILHO

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EM 17/07/2015

Bom artigo.

Os produtores precisam de informação.

Parabéns.

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