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Qualidade e composição de alimentos para o desenvolvimento ruminal de bezerras leiteiras

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E LUCAS SILVEIRA FERREIRA

CARLA BITTAR

EM 24/11/2016

8 MIN DE LEITURA

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A colonização microbiana, disponibilidade de água, além do desenvolvimento da capacidade absortiva são fatores importantes e sinais de ocorrência de desenvolvimento ruminal. Entretanto, o fator determinante para que isto ocorra é o consumo de alimento sólido o mais cedo possível. Devido à alta taxa de fermentação de grãos, com grande quantidade de carboidratos fermentáveis até ácidos propiônico e butírico, estes são os melhores promotores do desenvolvimento ruminal precoce. Por outro lado, diversos trabalhos mostram que carboidratos estruturais originados de forragens são fermentados até ácido acético, contribuindo pouco para o desenvolvimento de papilas ruminais.

A composição química dos concentrados auxilia no estabelecimento de população microbiana, e consequente aumento na produção de ácido butírico e propiônico, que também influenciam na redução do pH ruminal. As forragens têm habilidade de manter pH ruminal mais elevado, devido ao maior tamanho de partícula e perfil de fermentação. No entanto, a manutenção de um pH ruminal mais elevado suporta populações microbianas associadas tipicamente com forragens, que por sua vez alteram a produção de butirato e propionato para acetato.

O crescimento normal e desenvolvimento do trato digestório do ruminante podem ser alterados pelo consumo de alimentos concentrados ou volumosos, níveis de inclusão, sua forma física, entre outros fatores (Tabela 1). Porém, a composição química e os produtos finais resultantes da fermentação é que tem mostrado maior influência no desenvolvimento do epitélio ruminal (Khan et al., 2016).

O consumo de forragens aumenta o estímulo físico à parede do rúmen, provocando desenvolvimento muscular e em volume (Zitnan et al., 1998). A principal evidência para esse desenvolvimento muscular independente do crescimento epitelial é encontrada nos estudos que determinaram os efeitos de material inerte (esponjas) no desenvolvimento muscular, do epitélio e capacidade ruminal (Suarez et al., 2007).

Tabela 1 – Efeito de alimentos concentrados ou de forragem em parâmetros de desenvolvimento ruminal.
 

desenvolvimento ruminal em bezerras

Várias questões podem ser levantadas com relação ao fornecimento de volumosos durante o período de aleitamento, sendo que a recomendação não é um consenso entre pesquisadores. Além das menores concentrações de ácido butírico e propiônico, o fornecimento de volumosos poderia reduzir o consumo de nutrientes, uma vez que normalmente tem menores teores de proteína e energia, afetando negativamente as taxas de ganho. Este problema é ainda mais agravado quando a taxa de substituição de concentrado pelo volumoso é alta, o que normalmente ocorre quando o concentrado tem formulação inadequada ou quando a forragem é de alta qualidade.

Castells et al. (2012 e 2013) mostraram benefícios em consumo e ganho de peso quando animais receberam feno de ou silagem de gramínea, o que não ocorreu com o fornecimento de alfafa, observando maiores consumos de volumoso, em detrimento ao consumo de concentrado, quando este é de alta qualidade. Por outro lado, estudos recentes têm sugerido o benefício do fornecimento de volumosos principalmente para animais em aleitamento intensivo, onde o consumo de concentrado é baixo (Khan et al., 2011). Nestes sistemas de aleitamento, o fornecimento de volumoso resulta em aumento no consumo total de matéria seca, aumentando consequentemente as taxas de ganho de peso.

De acordo com Davis & Drackley (1998) os concentrados devem ser compostos de ingredientes com alta digestibilidade, uma vez que o rúmen está em desenvolvimento, apresentando teores de proteína bruta em torno de 20-22%, 80% de NDT, FDN entre 15 e 25% e FDA entre 6 e 20%. As amplas faixas de recomendação de teores de FDN e FDA revelam a importância dos teores de fibra nos concentrados. Enquanto os teores mínimos têm como objetivo garantir a saúde do epitélio ruminal, os teores máximos garantem a inclusão de ingredientes de alta digestibilidade.

Muitos dos efeitos negativos observados com o fornecimento de concentrados inadequados em fibra estão relacionados a alta fermentação de amido a ácido lático e consequente redução no pH ruminal. Nestas situações são comuns as grandes variações nas mensurações de consumo de concentrado, provavelmente como resposta a acidose ruminal.

A redução da inclusão de amido via milho no concentrado inicial pode auxiliar na redução de grandes variações no pH ruminal deste animal, o qual ainda está com o trato digestório em desenvolvimento. É provável que a alta variação no consumo diário de concentrado inicial se deva a estas flutuações no pH ruminal e o tempo que o sistema demora para se restabelecer depois de um pico de consumo de concentrado. Assim, a substituição do milho (amido) como fonte de energia, por fontes alternativas que possam de alguma forma auxiliar na adequação do teor de fibra do concentrado, estabilizando o consumo, pode beneficiar o desenvolvimento ruminal e consequentemente o desempenho dos animais.

A polpa cítrica, ingrediente rico em pectina, é um dos coprodutos mais disponíveis na região sudeste, apresentando o mesmo valor energético que o milho e a vantagem de alterar o perfil de fermentação ruminal, auxiliando na manutenção da saúde ruminal. No trabalho de Oltramari et al. (2016), a substituição de 50 ou 100% do milho por polpa cítrica no concentrado não alterou o consumo de concentrado, desempenho, escore fecal e parâmetros sanguíneos de bezerros em aleitamento. Porém, observou-se que a inclusão de polpa cítrica aumentou a concentração de butirato ruminal e o desenvolvimento do trato digestório superior, podendo refletir em melhor desempenho na vida futura do animal.

Incluir ingredientes que possam aumentar as concentrações de ácido propiônico ou butírico, como a glicerina bruta e o melaço, respectivamente, também podem ser uma estratégia para acelerar o desenvolvimento ruminal. A substituição de milho por glicerina bruta nas taxas de 5 e 10% não afetaram o desempenho, o metabolismo energético ou o desenvolvimento ruminal de bezerros (Bittar et al., 2016). Já a substituição do milho por 5 ou 10% de melaço de cana ou 5% de xarope de glicose no concentrado inicial não teve impacto no desempenho animal, mas mostrou alguns impactos positivos na fermentação ruminal (maior concentração de C3), o que pode ser benéfico para animais com o rúmen em desenvolvimento (Oltramari et al., 2016).

Além da composição do concentrado, sua forma física também tem sido investigada como fator para desenvolvimento ruminal. Coverdale et al. (2004) observaram que animais que recebiam dieta farelada ou com qualquer adição de feno apresentaram os maiores ganhos de peso. Os animais recebendo concentrado farelado grosso apresentaram maiores concentrações de AGCC, apresentando maiores concentrações molares de propionato e butirato.

Beharka et al. (1998) avaliaram o efeito da forma física da dieta (moída ou não moída) e relataram menores valores de pH nos animais consumindo dieta moída, o que resultou em menor população de bactérias celulolíticas e maior de amilolíticas. Os animais recebendo dieta moída apresentaram maiores alterações nas papilas, enquanto animais com dieta não moída apresentaram maior desenvolvimento do epitélio ruminal. Por outro lado, Bittar et al. (2009) não observaram diferenças no desempenho ou desenvolvimento de bezerros em aleitamento recebendo concentrado inicial farelado grosso ou peletizado.

A literatura tem inúmeros trabalhos com avaliação do desenvolvimento ruminal de bezerros leiteiros, uma vez que o período em torno do desaleitamento é um dos pontos críticos na criação, com grandes efeitos no desempenho. No entanto, ainda não se tem conhecimento de como realmente mensurar este processo. Muitos trabalhos têm utilizado marcadores de metabolismo como a concentração de BHBA ou mesmo de glicose para indicar o desenvolvimento do rúmen e a maturação do ponto de vista metabólico (início da cetogênese).

Outros trabalhos têm tentado entender o processo ao longo das semanas realizando coletas de fluído ruminal através de sondas ou mesmo da canulação, o que comprovadamente afeta o consumo de concentrado e, portanto, o desenvolvimento ruminal. O abate de animais também tem sido realizado de forma que os compartimentos possam ser pesados e amostras de epitélio ruminal possam ser colhidas para entendimento de número, largura e altura de papilas, assim como espessura da parede muscular. Todas estas medidas, no entanto, devem ser avaliadas de forma conjunta e não fragmentada, sendo no final, o consumo de concentrado o melhor indicador prático de desenvolvimento ruminal.

Referências bibliográficas

Beharka, A.A., Nagaraja, T.G., Morrill, J.L., Kennedy, G.A., Klemm, R.D., 1998. Effects of form of the diet on anatomical, microbial, and fermentative development of the rumen of neonatal calves. Journal of Dairy Science 81, 1946-1955.

Bittar, C.M.M., Ferreira, L.S., Santos, F.A.P., Zopollatto, M., 2009. Performance and ruminal development of dairy calves fed starter concentrate with different physical forms. Revista Brasileira De Zootecnia 38, 1561-1567.

Bittar, C. M. M., Nápoles, G. G. O., Oltramari, C. E., Silva, J. T., De Paula, M.R., Santos, F. H. R., Gallo, M. P. C., Mourão, G. B. 2016. Crude glycerin as a replacement for corn in starter feed: performance and metabolism of pre-weaned dairy calves. Animal Production Science, https://dx.doi.org/10.1071/AN15451.

Castells, L., Bach, A., Araujo, G., Montoro, C., Terre, M., 2012. Effect of different forage sources on performance and feeding behavior of Holstein calves. Journal of Dairy Science 95, 286-293.

Castells, L., Bach, A., Aris, A., Terre, M., 2013. Effects of forage provision to young calves on rumen fermentation and development of the gastrointestinal tract. Journal of Dairy Science 96, 5226-5236.

Coverdale, J.A., Tyler, H.D., Quigley, J.D., Brumm, J.A., 2004. Effect of various levels of forage and form of diet on rumen development and growth in calves. Journal of Dairy Science 87, 2554-2562.

Davis, C.L.; Drackley, J. K. The development, nutrition, and management of the young calf. Ames: Iowa State University Press, p.339, 1998.
Khan, M.A., Bach, A., Weary, D.M., von Keyserlingk, M.A.G., 2016. Invited review: Transitioning from milk to solid feed in dairy heifers. Journal of Dairy Science 99, 885-902.

Khan, M.A., Weary, D.M., von Keyserlingk, M.A.G., 2011. Hay intake improves performance and rumen development of calves fed higher quantities of milk. Journal of Dairy Science 94, 3547-3553.

Oltramari, C.E., Nápoles, G.G.O., De Paula, M.R., Silva, J.T., Gallo, M.P.C., Pasetti, M.H.O., Bittar, C.M.M. 2016. Performance and Metabolism of Calves Fed Starter Feed Containing Sugarcane Molasses or Glucose Syrup as a Replacement for Corn. Asian-Australasian Journal of Animal Sciences. https://dx.doi.org/10.5713/ajas.15.0550.

Suarez, B.J., Van Reenen, C.G., Stockhofe, N., Dijkstra, J., Gerrits, W.J.J., 2007. Effect of roughage source and roughage to concentrate ratio on animal performance and rumen development in veal calves. Journal of Dairy Science 90, 2390-2403.

Zitnan, R., Voigt, J., Schonhusen, U., Wegner, J., Kokardova, M., Hagemeister, H., Levkut, M., Kuhla, S., Sommer, A., 1998. Influence of dietary concentrate to forage ratio on the development of rumen mucosa in calves. Archives of Animal Nutrition-Archiv Fur Tierernahrung 51, 279-+.

 

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

LUCAS SILVEIRA FERREIRA

Engenheiro agronômo formado pela UFSCar e Doutor em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ - USP na área de nutrição e avaliação de alimentos para bovinos. Atualmente exerce a função de Nutricionista de Ruminantes na Agroceres MMX Nutrição Animal

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ANTENOR FORNAZARI NETO

JOAÇABA - SANTA CATARINA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 01/12/2016

Excelente matéria. Dá-nos um norte e base para trabalharmos focados em uma nutrição de resultados. Parabéns.

Poderias comentar alguma coisa sobre a casca de soja, para estes animais. Teria este alimento resultados semelhantes à polpa cítrica?

Abraço!

Antenor

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