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A socialização de bezerros pode os encorajar a consumir novos alimentos?

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E MARÍLIA RIBEIRO DE PAULA

CARLA BITTAR

EM 22/12/2014

8 MIN DE LEITURA

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Bovinos são frequentemente expostos à novos alimentos, a exemplo de bezerros, que passam de uma dieta líquida para uma dieta sólida e mais tarde dietas ricas em volumosos. A neofobia alimentar é bem característica em ruminantes e é definida como o ato de evitar e relutar à alimentos com sabor não familiar. Esta é uma característica adaptativa, pois ajuda os animais a evitar alimentos tóxicos. Mas em alguns casos pode ser problemático, quando o animal se recusa a ingerir alimentos que fazem parte da formulação da dieta. Em alguns casos, esta neofobia pode afetar a ingestão alimentar e consequentemente a produtividade.

Estudos comprovam que a socialização durante a fase de aleitamento, por volta de 6 a 8 semanas, é capaz de reduzir problemas associados com a alimentação e a transição para novos ambientes. Além disso, o contato social com a mãe e com outros bezerros faz com que os bezerros reduzam as respostas à contenção e aumentem os comportamentos lúdicos. Ainda, animais alojados em pares desde o início da vida, ingerem alimentos sólidos mais cedo e consomem mais deste alimento durante a fase de aleitamento, além de apresentar maior comportamento exploratório, quando comparados à animais individualmente alojados.

Tendo em vista que um aspecto importante da gestão moderna da produção leiteira é a capacidade de alterar dietas para atender as necessidades do animal, bem como coincidir com a disponibilidade de alimentos, torna-se cada vez mais importante a capacidade de transição do animal para novos tipos de alimentos. Baseados nestes achados, pesquisadores canadenses desenvolveram a hipótese que bezerros que fossem socializados poderiam ter maior interesse em consumir novos alimentos. Assim, o objetivo do estudo foi avaliar o efeito da socialização nas respostas neofóbicas para novos alimentos.

Foram utilizados 36 bezerros machos da raça Holandês, divididos em dois grupos: 18 animais criados individualmente e 18 animais que foram socializados. Os animais individualizados foram alojados em baias individuais logo após o nascimento e não tinham contato visual com outros bezerros, apenas podiam ouvi-los (Figura 1).
 

bezerros
Figura 1. Baia dos bezerros criados individualmente (1,2m x 2,0m).


Já os bezerros que foram socializados, permaneceram com as mães por 3 dias após o parto. Após o parto, as mães receberam uma espécie de rede no úbere, que impedia os bezerros de mamarem. As vacas e os bezerros foram transferidos para galpões compostos por 12 baias de freestall e uma baia para bezerros (Figura 2). Os grupos em cada galpão variaram de 4 a 8 pares de fêmeas com suas crias ao longo do estudo. Os bezerros ficavam no grupo até 75 dias, porém a todo momento entrava um novo bezerro, mantendo sempre um grupo de no máximo 8 bezerros.

Os bezerros tinham permaneciam com a vacas diariamente das 19:00 às 7:00 h. Após este período, os bezerros eram separados das vacas e colocados na baia de bezerros, conforme demonstrado na Figura 2. Durante o período que ficavam na baia, os bezerros tinham contato apenas com o focinho das vacas.

 

bezerros

 

Figura 2. Galpão onde os bezerros eram socializados, contendo 12 freestalls e uma baia para bezerros. Durante a noite (19:00 – 07:00h) os bezerros tinham acesso as vacas no freestall, e durante o dia ficavam restrito a baia dos bezerros.


Ao nascer, os bezerros de ambos os tratamentos receberam 4 L de colostro dentro das primeiras 6 horas. Do dia 0 até o dia 28 de vida, os bezerros receberam em mamadeira 8 L de leite pasteurizado divididos em 2 refeições (07:00 e as 16:30). Do dia 29 até o dia 49 de vida, passaram a receber 6L de leite por dia em 2 refeições. Do dia 50 até o dia 55, diariamente era reduzido 20% do leite, de forma que no dia 55 os bezerros eram desaleitados. Os bezerros permaneceram nas baias até os 75 dias de vida.

Todos os bezerros tinham livre acesso a água, concentrado inicial para bezerros (90% MS, 21% PB, 19% FDN, 11%FDA) e ração total (49% MS, constituída por 26% de silagem de milho, 15% de silagem de capim, 10% feno de alfafa e 49% de concentrado). Os alimentos eram fornecidos diariamente, em 2 refeições e as sobras eram removidas e pesadas.

Os testes de neofobia foram escolhidos para avaliar as respostas comportamentais dos bezerros em relação a um novo alimento. O teste foi repetido por 3 dias consecutivos e começaram quando os bezerros completaram 70 dias de idade (2 semanas após o desaleitamento).

O local de teste tinha 1,2 m × 2 m com paredes de 1,2 m e era localizado adjacente aos recintos onde os bezerros foram alojados. Os bezerros recebiam o leite neste local na fase do aleitamento, de forma que estavam totalmente habituados no momento do teste. Os bezerros não tinham contato visual com outros bezerros na hora do teste.

Dos 36 animais que iniciaram o experimento, foram divididos em 2 grupos para os testes de neofobia, um grupo foi formado por 20 animais (10 animais criados individualmente e 10 que foram socializados) e o novo alimento fornecido à eles foi feno. O outro grupo era composto por 16 animais (8 animais criados individualmente e 8 que foram socializados) e o novo alimento fornecido à eles foi cenoura picada manualmente.

Dois baldes brancos idênticos aos que eram usados para fornecer água, com capacidade de 20 L, eram colocados no local do teste. Um balde continha 2 kg do novo alimento e o outro balde permanecia vazio. Os animais permaneciam por 30 minutos no local de teste e as sobras eram pesadas. O comportamento foi gravado por uma câmera de forma contínua durante os testes de neofobia. O ato de ingerir alimento foi definido quando se observava o animal com o focinho dentro do balde de alimento.

Os resultados observados foram que os bezerros socializados consumiram mais dos novos alimentos em relação aos criados individualmente (Figura 3). A socialização também diminuiu a latência para estes animais consumirem novos alimentos (Figura 4). A quantidade do novo alimento consumido não se alterou nos 3 dias de teste (Tabela 1). O tempo gasto para se alimentar e o tempo para se aproximar dos baldes não foi diferente entre os tratamentos (Tabela 2). Além disso, o peso corporal dos animais não diferiu entre os tratamentos ao final dos testes.

 

 

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Figura 3. Ingestão média do novo alimento (g/alimento).

 

 

 

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Figura 4. Latência para comer novos alimentos (minutos:segundo/alimento).

 


Tabela 1. Ingestão média (± EP) de novos alimentos (g/alimento) e latência para comer (min:s) durante 3 dias consecutivos de teste.


Tabela 2. Médias (± EP) de latência (min:s/alimento) para se aproximar do alimento, de latência (min:s/alimento) para se aproximar do balde vazio, tempo (min:s/alimento) gasto para comer, e tempo (min:s/alimento) que passou manipulando balde vazio*.

*As respostas foram medidas durante 30 min em apenas 1 d. No ensaio 1 (n = 10 por tratamento), os bezerros foram testados com a exposição ao feno; No ensaio 2 (n = 8 por tratamento) bezerros foram testados com cenouras picadas. As análises foram baseadas em dados transformados em raiz quadrada;
** Valores de P são mostrados para o tratamento (T), alimento (feno ou cenoura - A), e a interação entre tratamento e alimento (TxA).

Estes resultados mostram que a criação em um ambiente social reduz a neofobia alimentar, bem como estimula os animais a abordar utensílios de alimentação mais rapidamente, passar mais tempo em contato com esses itens e consumirem maior quantidade de alimento em relação aos animais criados individualmente.

Uma explicação para os resultados obtidos é que animais que foram socializados estavam mais motivados para expressar o comportamento exploratório e isto pode ser importante quando os animais são colocados em ambientes novos. Durante os 3 dias de testes não foram encontradas diferenças na ingestão ou na latência para comer ou se aproximar do alimento, sugerindo que a resposta neofóbica pode persistir por pelo menos 3 dias.

Concluindo, a oportunidade de socialização com outros bezerros e com as vacas proporcionou aumento na ingestão e redução da latência para abordar e comer dois tipos diferentes de novos alimentos. Aceitação tardia de novos alimentos pode ser uma preocupação no bem-estar e na produção de bovinos leiteiros, já que estes animais são frequentemente expostos a estas situações. A criação individual pode reduzir a capacidade do bezerro em se adaptar às mudanças na alimentação e, possivelmente, mudanças no ambiente.

Referências

COSTA, J.H.C.; DAROS, R.R.; VON KEYSERLINGK, M.A.G.; WEARY, D.M. Complex social housing reduces food neophobia in dairy calves. Journal of Dairy Science v. 97, p. 7804–7810, 2014.


Comentários

A criação em grupos permite a socialização dos animais, o que pode trazer grandes benefícios ao desempenho animal, seja no que diz respeito a novos ambientes ou nova dieta. No entanto, o adequado manejo para que a ocorrência de doenças não seja alta é um fator preocupante. É comum observarmos em campo maior freqüência de diarreia e pneumonia em animais criados coletivamente. Isso se deve ao fato de que a transmissão destas doenças é do tipo oral/fecal ou pelo contato entre animais. O manejo alimentar também pode ser mais difícil se o aleitamento, assim como o alojamento, for coletivo. Nestas situações não se tem controle do consumo individual, de forma que o desempenho pode ser variável entre animais contemporâneos. Este problema, no entanto pode ser contornado com o uso de canzil no momento do aleitamento ou ainda com a adoção de aleitador automático. Muitos benefícios podem ocorrer em resposta a criação coletiva, no entanto, ajustes no manejo devem ser feitos de forma a manter o desempenho animal.

 

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CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

MARÍLIA RIBEIRO DE PAULA

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