Paulo Fernando Machado
- Qual é o potencial de produção dos meus animais ?
- A alimentação esta balanceada ?
- Quanto estou perdendo devido à mastite ?
- Tenho problema reprodutivo ? Qual é o tamanho deste problema ?
- Minhas novilhas estão sendo bem criadas ?
Pensando desta forma, procuraremos auxiliar os produtores e consultores a fazer uma análise detalhada da situação zootécnica da fazenda. Vale ressaltar que esta tipo de avaliação faz parte do método OPA (Olhe, Pense e Aja) da Clínica do Leite. Responder a estas questões faz parte do “O” e do “P”, que são o Olhe e o Pense. Tudo isto, antes de mudar qualquer procedimento ou tomar qualquer ação na fazenda.
Portanto, este é o primeiro de uma série de 4 artigos, focados em avaliação zootécnica. A fazenda pode ter acesso a todo conteúdo apresentado aqui nesta série a partir de 2 fontes de dados, como apresentado no diagrama abaixo.
O Relatório Gerencial Zootécnico é dividido em 6 sub-áreas: Produção, Nutrição, Reprodução, Sanidade, Criação e Benchmarking. Utilizaremos nos artigos os dados de 1 fazenda apenas. Com isto, esperamos ao fim desta série ter um diagnóstico completo da situação.
Fatores determinantes da produtividade dos animais
É sabido que a produção de leite de um animal é função de 2 fatores: pico de produção e persistência da lactação. Estes, por sua vez, são influenciados por diversos outros fatores, principalmente genética e fatores nutricionais e ambientais. Por exemplo, na figura 1, podemos observar a curva de lactação de vacas holandesas gerada a partir do banco de dados da Clínica do Leite. Notamos um aumento de produção a cada ordem de lactação e uma mudança no comportamento da curva. As primíparas tem menor pico de produção e maior persistência, enquanto as multíparas tem maior pico de produção e menor persistência.
O pico de produção é afetado principalmente por doenças e condição corporal ao parto dos animais, já a persistência é afetada pela ocorrência de doenças durante a lactação (mastite e casco), uso de BST e também pela condição corporal ao parto. Além da curva de lactação, muitos outros fatores interferem para que um animal não expresse o seu potencial produtivo. Na figura 1 podemos ver alguns destes. Por exemplo, animais com mastite subclínica podem produzir até 16% a menos do que poderiam estar produzindo. Animais que tiveram problemas ao parto (transição) também não expressarão o seu potencial durante toda a lactação.
Minhas vacas estão produzindo o que deveriam ?
Antes de iniciar a avaliação, vale ressaltar um importante item ao avaliar qualquer dado zootécnico, que é o número de observações. Para fazendas com menos de 50 matrizes, é necessário somarmos meses, para avaliar em conjunto e ter um número mínimo de dados. Em segundo lugar, é necessário termos as perguntas em mente, como guia. Para avaliação da produção de leite, recomendamos o seguinte guia:
1) Qual é o problema percebido pelo produtor? Este de fato existe ?
2) Qual a importância deste para a fazenda? Quais são as perdas financeiras?
3) O problema é recente ou acontece todos anos?
4) Onde está localizado? Nas novilhas ou nas vacas?
5) Os animais estão dando pico? E a persistência?
6) As novilhas estão bem criadas? A genética está melhorando?
7) Existem problemas sanitários impactando a produção?
8) Como está o período transição ?
Dando início à avaliação, para verificar se o problema de produção de leite de fato existe, utilizamos o indicador média mensal por vaca em lactação por dia, da Figura 2. Podemos ver que a 4 meses, não estamos atingindo a média de produção esperada (faixas).Esta faixa esperada foi construída pela projeção da produção do rebanho que, por sua vez, foi calculada a partir do histórico dos animais.
Para verificar as perdas financeiras e se o problema é recente ou não, utilizamos o R201, Figura 3. Podemos observar que a fazenda atualmente esta com 193 DEL médio e com 44% dos animais em lactação, de 1a cria (faixa vermelha). Sempre que este percentual for superior a 35% nos indica problemas reprodutivos no rebanho ou que as novilhas estão parindo muito velhas.
A fazenda esta com 91% dos animais em lactação, o que esta excelente. Com o auxílio do R202, conseguimos estimar o tamanho deste problema. Observe a parte destacada em vermelho onde mostra que, para o mês passado, a média foi 30,4, se tivéssemos 150 DEL média seria de 33,8 kg/vaca/dia e, como potencial, 38,6, ou seja, 8,4 kg a mais por animal por dia. Considerando que a fazenda tem 569 VL (R201 acima), são mais de 4500 litros / dia.
Neste relatório podemos avaliar a questão 6 do guia, o potencial genético do rebanho. Para a fazenda, em média, as novilhas tem um EQA (Lactação da Idade Adulta) superior aos animais de 2a lactação, que são superiores aos de 3a. Ou seja, esta adequado.
No R202 também podemos consultar as médias de produção do início, pico e fim da lactação dos animais de 1a cria e das demais categorias. Isto nos permite avaliar as perguntas 4 e 5 do guia, ou seja, ONDE o problema esta localizado. Para melhor visualização, vamos avaliar a mesma informação em formato gráfico:
Para a fazenda, este mês, podemos observar que a curva de produção das novilhas (linha cinza) esta abaixo da Potencial (linha preta), principalmente no início e no fim da lactação. Cada ponto do gráfico é um animal. Os pontos amarelos são as primíparas que têm ou tiveram mastite subclínica, os pontos em azul são os animais que apresentaram problemas de casco e os pontos em vermelho, antes dos 60 dias em lactação, que tiveram problemas ao parto. Percebemos uma grande dispersão dos dados, o que não é normal. A pergunta que fica é: por que temos novilhas com 40 e com 10 litros / dia com o mesmo DEL e no mesmo rebanho, confinadas, considerando que o grupo é geneticamente homogêneo ? Esta dispersão dos animais também é observada nas multíparas, como apresentado na Figura 6. Estas, com início, pico e fim abaixo do potencial de produção.
Os 2 gráficos acima mostram que 14 animais apresentaram problemas ao parto, nos últimos 30 dias e não mostrou nenhum animal com problema de casco. Este é um dos principais pontos de uma análise de dados – a anotação das informações. Podemos avaliar a transição também pela composição do leite entre os 10 e 40 dias, como apresentado na Figura 7. O rebanho que tiver mais de 40% dos animais com relação gordura:proteína maior que 1,4 possui alta incidência de cetose, deslocamento de abomaso e doença do fígado gordo.
Sem ir à fazenda, você já deve estar com um cenário na cabeça. Este é um rebanho em que os animais estão parindo muito bem, com poucos problemas pós-parto. As novilhas tem alto pico de produção e depois tem grande queda, que mantêm nas demais lactações. É um rebanho com problema reprodutivo (alto DEL e % de novilhas) e que pode vender muito mais leite se focar nesta área de oportunidade.