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Compost barn vs free stall: diferenças de ocorrência de mastite e conforto

POR MARCOS VEIGA SANTOS

MARCOS VEIGA DOS SANTOS

EM 16/08/2016

6 MIN DE LEITURA

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4
Tiago Tomazi*
Marcos Veiga dos Santos


O compost barn (estábulo com material de compostagem) é um sistema de alojamento desenvolvido nos EUA na década de 80 e com crescente número no Brasil. Este sistema de alojamento consiste de um galpão ventilado e internamente aberto (sem repartições) com área de descanso comum para as vacas. O bom funcionamento do compost barn depende da fermentação aeróbia da matéria orgânica pelas bactérias presentes na cama. Este processo ocorre por meio da mistura de uma fonte de carbono (serragem, maravalha de madeira, casca de café) com material orgânico rico em nitrogênio (fezes/urina) através do revolvimento diário da cama. O revolvimento da cama (2 a 3 vezes ao dia) juntamente com a ventilação constante proporciona condições para infiltração de ar e manutenção dos níveis adequados de umidade. Tais fatores garantem a rápida degradação da matéria orgânica e proporcionam uma superfície seca e confortável para que as vacas possam se deitar e locomoverem-se.

Outro sistema de alojamento muito utilizado em rebanhos leiteiros é o sistema tipo free stall, no qual cada vaca possui uma cama separada por repartições metálicas ou de madeira. Mesmo que diversos tipos de materiais orgânicos e até mesmo colchões (água e materiais sintéticos) possam ser utilizados como cama em sistemas free stall, a areia ainda é considerada o “padrão ouro” para este sistema de alojamento. A areia apresenta algumas características que a tornam um dos materiais mais recomendados em free stalls

1) é confortável;
2) limita o crescimento bacteriano (material inorgânico);
3) reduz escorregões por meio do aumento da abrasividade na superfície dos corredores; 4) possui baixa umidade inicial e retém pouca água. Além disso, a areia se desloca com a vaca no momento em que ela deita, levanta ou se movimenta na cama. Esta característica reduz a fricção nos jarretes e joelhos e aumenta a superfície de descanso para as vacas.

De forma similar à areia, camas com material de compostagem se adaptam de acordo com a movimentação da vaca, proporcionando uma superfície confortável para as vacas deitarem e levantarem-se. Estudos recentes demonstraram que sistemas compost barn proporcionaram redução na incidência de claudicação (manqueira) em comparação com vacas alojadas em sistemas free stall com cama de areia. Além disso, ao comparar o sistema compost barn com outros sistemas de alojamento utilizados nos EUA, não foi observado diferença sobre a CCS de leite de tanque e sobre a porcentagem de vacas com alta CCS (>200.000 células/mL).

Considerando a carência de informações relacionadas ao conforto e sanidade de vacas leiteiras alojadas em sistemas de compostagem, um estudo comparou o sistema compost barn com outros sistemas de alojamento, especialmente free stall com cama de areia sobre: a) higiene, b) locomoção, e, c) indicadores de mastite. Oito rebanhos comerciais com sistema de alojamento tipo compost barn e sete rebanhos com alojamento tipo free stall com cama de areia foram incluídos no estudo. Apenas fazendas com CCS média inferior a 300.000 células/mL foram avaliadas no estudo de modo a garantir que os rebanhos possuíam boas práticas de manejo e controle de mastite.

Amostras de leite foram coletadas pelos ordenhadores de quartos com sintomas de mastite clínica. Indicadores de mastite subclínica como a CCS individual e a prevalência de vacas com CCS >200.000 células/mL foram registrados utilizando-se o banco de dados do sistema informatizado dos rebanhos. Além disso, a CCS do leite de tanque de todos os rebanhos monitorados no estado de Kentucky (EUA), de janeiro 2013 a janeiro de 2014 foram comparadas considerando-se o sistema de alojamento de cada propriedade (compost barn, free stall ou tie stall). Obs.: no sistema tie stall as vacas ficam contidas em boxes específicos, usualmente com uma corrente no pescoço durante todo o período de lactação.

Os rebanhos foram visitados pelos pesquisadores a cada duas semanas (total de 26 visitas) durante o período de estudo e a temperatura superficial das camas foi registrada. Além disso, as visitas incluíram a avaliação de 50 vacas em relação a higiene, locomoção e escores de jarrete. A locomoção das vacas foi avaliada utilizando uma classificação de cinco pontos, sendo que o escore 1 referiu-se à locomoção normal (sadia) e o escore 5 a presença de claudicação grave (linha do dorso arqueada com a vaca recusando-se a apoiar o pé no solo ao andar).

A higiene das vacas foi avaliada com base em observações de limpeza das pernas, flancos e úbere usando o sistema de classificação de 4 pontos: 1=limpa, 2=moderadamente suja, 3=placas de barro/fezes com pelos visíveis, e, 4=placas confluentes de barro/fezes sem visibilidade dos pêlos. Por fim, o escore de jarretes foi avaliado com um escore de classificação de 3 pontos (Figura 1).


Figura 1: Método de avaliação do conforto de camas por meio de escore de jarretes (Fonte: Animal Health Diagnostic Center – Cornell University).

Não houve diferença de temperatura superficial da cama quando o sistema compost barn (17,8ºC) foi comparado com o sistema free stall com areia (16,1ºC). Este resultado indica que o processo de compostagem não é um fator que influencia o estresse térmico em camas bem manejadas, mesmo que a temperatura interna do material em processo de compostagem possa superar os 65ºC.

Da mesma forma, não foi observado efeito do tipo de cama sobre o escore de jarretes e o escore de locomoção. Todas as vacas avaliadas neste estudo apresentaram jarretes com escore 1, independentemente do tipo de cama. Em relação ao escore de locomoção, 27,4% das vacas alojadas em sistema compost barn e 28,8% das vacas alojadas em free stall apresentaram escore 1 (ausência de claudicação). A maior porcentagem das vacas apresentou claudicação leve (escore 2) nos dois tipos de instalação (33,3% para compost barn e 30,4% para free stall com cama de areia). Tais resultados diferiram de outros estudos que relataram que superfícies macias e confortáveis, típicos do compost barn, reduziram o percentual de vacas claudicando em comparação com vacas alojadas em free stall.

Também não foi observado efeito do tipo de alojamento sobre o escore de higiene das vacas. Vacas alojadas em compost barn apresentaram um escore médio de higiene de 2,2 enquanto vacas em free stalls apresentaram um escore médio de 2.3.

Em relação aos indicadores de mastite, também não houve efeito do tipo de alojamento e do escore de higiene sobre a CCS média de vacas, prevalência de vacas com alta CCS (>200.000 células/mL), incidência de mastite clínica e distribuição de patógenos causadores de mastite clínica. No entanto, os menores valores de CCS foram observados quando a superfície das camas e as temperaturas ambientes estavam mais baixas, o que indica que o estresse térmico é um fator de risco importante para o aumento da CCS. Em relação ao escore de gravidade de mastite clínica, foi observado maior incidência de graus moderado (alteração nas características do leite e úbere) grave (sintomas sistêmicos) em vacas alojadas em sistema free stall em comparação com sistema compost barn (Figura 1).

Tabela 1 – Indicadores de mastite clínica relatados durante 26 visitas realizadas em rebanhos com sistemas de alojamento tipo compost barn e free stall de maio de 2013 a maio de 2014.

Fonte: Adaptado de Eckelkamp et al. (2016).

Semelhantemente aos demais indicadores de mastite, não foi observado efeito do tipo de instalação e escore de higiene sobre a CCS do leite de tanque nos rebanhos incluídos no estudo. Resultados similares foram observados quando todos os rebanhos monitorados no estado de Kentucky foram avaliados considerando-se o sistema de alojamento de vacas: compost barn=259.193 células/mL, free stall=259.478 células/mL, e tie stall=260.441 células/mL.

Este estudo demonstrou que quando bem manejado (reposição periódica e revolvimento da cama e ventilação adequada e constante), o sistema compost barn pode funcionar com ótimos índices de qualidade do leite, sanidade e conforto das vacas similares aos observados em sistemas free stall com camas de areia. Entretanto, a porcentagem mais baixa de casos moderados e graves de mastite clínica e o investimento inicial mais baixo em relação ao free stall, podem tornar o sistema compost barn mais atrativo em rebanhos com CCS do leite de tanque inferiores a 300.000 células/mL.

Fonte: Eckelkamp et al. (2016). Sand bedded freestall and compost bedded pack effects on cow hygiene, locomotion, and mastites indicators. Livestock Science. 190:48-57, 2016.

*Tiago Tomazi é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Produção Animal da FMVZ/USP e atualmente está realizando um estágio de pesquisa na Universidade de Cornell (EUA).
 

MARCOS VEIGA SANTOS

Professor Associado da FMVZ-USP

Qualileite/FMVZ-USP
Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite
Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225
Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP
Pirassununga-SP 13635-900
19 3565 4260

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ALEX CAROZZI

AVARÉ - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/01/2018

Caro Professor Marcos Veiga.
Aqui é Alex Carozzi de Avaré. Da Rural Master Consultoria = Fazenda Experimental Rural Master (FERM).

Gostaria de uma opinião sobre o uso de maravalha ou pó-de-serra nas camas de free stall no lugar da areia.
O uso seria com troca total desta cama 1 vez/semana. Isto é, NÃO haveria compostagem (não haveria tempo suficiente, nem material orgânico para tal, somente o pó de serra, pois as fezes seriam retiradas como se faz com a areia).
Sabe-se do crescimento de Klebsiella em material orgânico com umidade é grave. Mas, isto seria possível, sem grandes problemas? Como manter a cama seca? = uso de cal a cada 2 dias seriam suficientes ... Existe trabalhos ou experiência nisso?
Alguma outra opção para um free stall sem colchão ou cama de areia?
Objetivo: ter uma cama confortável para as vacas, sem aquecimento (fermentação), ambiente menos contaminado possível e utilizar o esterco para compostagem nas lavouras e pastos.
Obrigado e aguardo
VETCOW

ARAÇATUBA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 04/05/2017

Bom dia
Sobre a temperatura superficial de 17,8ºC na cama do compost:
Até qual a profundidade da cama que encontramos essa temperatura??
Obrigado
ROSE MELO

EM 18/03/2017

Marcos Veiga, estou com muitas duvidas quanto a temperatura e umidade ideal para as camas no sistema compost barn.
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 07/10/2016

Prezado Juliano,

Infelizmente não tenho estas informações detalhadas sobre o custo de construção e implantação. Na minha opinião, o mais recomendado seria ter o assistência de um profissional local que possa fornecer estas informações.

Atenciosamente,

Marcos Veiga
JULIANO MACIASZEK

CANOAS - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 05/10/2016

Marcos Veiga, primeira mente agradeço pela matéria. muito instrutiva.
Gostaria de saber qual seria o custo de um galpão compost barn e free stall para 16 vacas em lactação e mais 16 prenhas. onde posso encontrar projetos para ambas? será q seria menos custoso a construção do barração em madeira de eucalipto? tenho uma área de 5ha, sendo que 2,5ha possíveis para pasto. qual produz mais, confinada com pasto e silagem, ou com apenas silagem? estou procurando mais informacoes para poder implementar o gado leiteiro nas minhas terras, mas esta difícil pois tudo que encontro sao fracoes de informacoes.
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 12/09/2016

Prezados, um comentário sobre a informação que recebi de uma pesquisadora da Holanda. Segundo esta pesquisadora, o uso de composto barn está com restrição para fazendas fornecedoras de leite da empresa Campina (uma das maiores compradoras de leite da Holanda), pois a presença de microrganismos formadores de esporos na cama poderiam afetar a producao de leite UHT. Ela mencionou que não se trata de uma restrição em toda a Europa, mas sim de uma restrição específica desta empresa.

Sobre o tipo de material usado na cama, ela não destacou nenhuma informação.

Atenciosamente, Marcos Veiga
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 12/09/2016

Prezados, um comentário sobre a informação que recebi de uma pesquisadora da Holanda. Segundo esta pesquisadora, o uso de composto barn está com restrição para fazendas fornecedoras de leite da empresa Campina (uma das maiores compradoras de leite da Holanda), pois a presença de microrganismos formadores de esporos na cama poderiam afetar a producao de leite UHT. Ela mencionou que não se trata de uma restrição em toda a Europa, mas sim de uma restrição específica desta empresa.

Sobre o tipo de material usado na cama, ela não destacou nenhuma informação.

Atenciosamente, Marcos Veia
LINDOMAR GERALDO DE OLIVEIRA

RUBIATABA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 30/08/2016

Boa noite, gostaria de saber se a incidência de carrapatos é menor em vacas alojadas no sistema compost barn uma vez que elas não saem ao o pasto para se reinfestarem.
Obrigado
Lindomar Geraldo de Oliveira
ADRIANO SEDDON

ITAPEVA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 24/08/2016

As bactérias termoresistentes encontradas na cama de alguns Compost na UE estão sendo relacionadas ao uso de restos alimentares humanos misturados a cama.
Como nesses países o substrato é caro e a necessisdade durante o inverno é alta alguns produtores acabam experimentando outros substratos.
ADRIANO SEDDON

ITAPEVA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 24/08/2016

Esse trabalho teve um resultado diferente de outros quanto ao score de locomoção.
Alguns trabalhos de Compost haviam demonstrado score de locomoção igual ou maior a 3 em somente 8% dos animais enquanto em free stall a literatura demonstrou até 25% de animais iguais ou superiores a score 3.
O maior inimigo do casco é o stress térmico, vacas que não deitam terão problema de casco. Tanto no Compost como em free stall é imprescindível o combate agressivo ao stress térmico.
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 23/08/2016

Prezado Roberto, eu já vi uma notícia com este teor, mas não encontrei a fonte e o link para te passar.

Recebi uma visita de uma pesquisadora da Holanda aqui no nosso laboratório e acabei de enviar uma mensagem para ela sobre este assunto para questioná-la sobre este assunto. Se conseguir alguma informação mais precisa, eu te aviso e respondo.

obrigado e um abraço, Marcos
ROBERTO JANK JR.

DESCALVADO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/08/2016

Marcos, há uma restrição crescente na UE para o compost barn devido à presença de bactérias termorresistentes presentes na cama fermentada, que estão causando problemas de mercado em alguns produtos lácteos. Algumas industrias de lacticínios têm evitado comprar leite de fazendas que utilizam o compost para vacas em lactação. Vc tem informações sobre isso?
abraços,
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 23/08/2016

Genecio, o artigo não aborda este assunto. No caso do compost barn, o resíduo da compostagem pode ser usado como adubo orgânico. No caso do free-stall, vai depender do tipo de manejo de dejetos que é utilizado. Atenciosamente, Marcos Veiga
GENECIO FEUSER

PARANAVAÍ - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/08/2016

Qual dos sistemas produzem melhor resultado quanto a produção de residos organicos?
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 23/08/2016

Prezado Udson, acho que a resposta para a sua questão depende dos demais ingredientes da dieta e não necessariamente em relação ao tipo de confinamento.

Não trabalho diretamente com nutrição e formulação de dietas e fica a pergunta aberta aos demais colegas. Atenciosamente, Marcos Veiga
UDSON SÉRGIO

BARRA MANSA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/08/2016

As vacas inseridas no confinamento, exemplo o compost, necessitam de feno?
Pois qual seria a fibra longa ja que não pastam mais.

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