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O que vamos selecionar em nossos rebanhos III - Conformação da vaca leiteira: sistema mamário

ANDRÉ THALER NETO

EM 15/07/2016

8 MIN DE LEITURA

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Retornando à série de textos sobre características para as quais precisamos promover melhoramento genético nos rebanhos, vamos iniciar o tema conformação/tipo da vaca leiteira, cuja seleção tem sido fundamental para que as vacas de alta produção apresentem bom desempenho em aspectos tais como funcionalidade, mobilidade e saúde, com consequente aumento de longevidade e da lucratividade. 

O Brasil adota o modelo canadense de classificação, com escala biológica de 1 a 9 pontos, para 23 características lineares de tipo, sendo as mesmas agrupadas em quatro compostos: sistema mamário, pernas e pés, garupa e força leiteira (VALLOTO, 2016).

O sistema mamário é o composto com o maior impacto nas vacas, reperesentando 42% da pontuação final na raça Holandesa. O composto é formado pelas seguintes características e pesos relativos: inserção de úbere anterior (18%), profundidade de úbere (14%), ligamento médio (14%), altura (12%) e largura (12%) de úbere posterior, textura do úbere (12%), colocação de tetas anteriores (10%) e posteriores (6%) e, comprimento de tetas (2%) (VALLOTO, 2016).

Ao longo das últimas décadas a seleção para a conformação do sistema mamário tem sido fundamental para suportar os aumentos de produção nas principais raças leiteiras. Assim sendo, diversos trabalhos têm demonstrado a importância biológica e econômica da seleção para sistema mamário.
 
Em um estudo com a raça Holandesa na Espanha, Perez-Cabal et al. (2002) observaram que os conjuntos de características de tipo que tiveram maior influência sobre a lucratividade vitalícia das vacas foram pernas e pés e sistema mamário, sendo que individualmente a profundidade do úbere foi a característica de tipo que mais afetou a lucratividade.

A principal causa do impacto econômico da conformação do sistema mamário é sua relação com prevalência de mastite, a qual está bem documentada na literatura (por exemplo, BOETTCHER et al., 1998; NASH et al., 2000; NASH et al., 2003; CARDOZO et al., 2015). Em função disto, vacas com boa conformação de úbere apresentam maior longevidade (WEIGEL, 2002; CARAVIELLO et al., 2004; VANRADEN et al., 2004; SEWALEM et al., 2006). 

Em um trabalho com 803.000 vacas, Weigel (2002) mostrou que o tempo entre o primeiro parto e o descarte de 50% das vacas aumentou, nas seguintes proporções, quando o escore linear aumentou de 2 para 8 pontos (dados transformados para a escala de 1 a 9 adotada no Brasil): 164 dias para profundidade do úbere, 131 dias para altura de úbere posterior, 122 dias para úbere anterior, 100 dias para largura de úbere posterior, 94 dias para ligamento central e 52 dias para colocação de tetas anteriores, sendo o valor intermediário o ideal para comprimento de teta.

De forma semelhante, o trabalho de Caraviello et al. (2003) mostra que na raça Jersey, especialmente úberes profundos e com ligamento central (clivagem) deficiente, aumentam consideravelmente o risco de descarte (Fig.1). 
Figura 1: Risco relativo de descarte por classe de escore linear para características de úbere (escala americana de 5 a 45 pontos) - Caravielloet al. (2003), adaptado por Caraviello(2005)
 
 
As características de úbere apresentam herdabilidade moderada. Valloto (2016) estimou herdabilidades variando de 0.14 a 0.31 para os diferentes atributos do sistema mamário. Níveis intermediários de herdabilidade, junto com considerável ênfase à seleção para sistema mamário têm sido fundamentais para suportar os intensos ganhos em produção de leite observados nas últimas décadas, aumentando consideravelmente o “estresse” sobre os tecidos mamários, em especial sobre os ligamentos.

Destaque especial merecem as características profundidade de úbere e inserção de úbere anterior. Correlação genética negativa entre estas características e a produção de leite e componentes têm sido estimadas em diversos trabalhos, tais como o de Valotto (2016) com vacas da raça Holandesa no Brasil. Isto impõe um desafio especial à estas características, visto que a maior parte das vacas e touros com valor genético elevado para características produtivas vão apresentar baixos valores para estas características.

Devido a isto, importância especial deve ser dada a seleção para estas características, visando suportar as elevadas produções de leite nas futuras gerações. Este desafio é maior nas raças com populações menores do que a Holandesa, como por exemplo a raça Jersey, onde o número de touros com valor genético elevado para produção e para estas características de tipo é menor, sendo que sugerimos neste caso um cuidado todo especial para a seleção para profundidade de úbere.

Neste sentido, cuidado especial também deve ser dado à seleção para profundidade de úbere em sistemas de cruzamento entre Holandês e Jersey. Em uma pesquisa comparando vacas puras Holandês e mestiças Holandês x Jersey, realizada pelo nosso grupo em rebanhos do Sul do Brasil, observamos que as vacas mestiças apresentavam, em média, o piso do úbere aproximadamente 3 cm. mais baixo em relação ao jarrete e aproximadamente 5,5 cm. mais baixo quando considerado em relação ao solo, característica denominada como udderclearance na literatura internacional (PARIZOTTO FILHO, 2015).

Em um trabalho com vacas em controle leiteiro em Santa Catarina (CARDOZO et al., 2015) estimamos risco de contrair uma nova infecção intramamária ou de cronificar uma infecção existente de 2,46 e 1,65 vezes para vacas com piso de úbere abaixo do jarrete em relação àquelas com piso do úbere acima do jarrete.
 
Ainda sobre estas características, em um trabalho envolvendo cerca de 236 mil vacas da raça Holandesa na Polônia, Morek-Kopec et al. (2012) analisaram a relação entre características de tipo com longevidade verdadeira (dias entre o primeiro parto e o descarte) e longevidade funcional (longevidade verdadeira ajustada para a produção de leite da vaca), verificando que a profundidade de úbere é a principal característica de tipo relacionada ao risco de descarte, sendo que vacas com úberes profundos apresentaram maior risco relativo de descarte do que vacas com úberes rasos (escore 8 a 9), sendo 1,5 x para longevidade funcional e 2,2 x para risco verdadeiro.

O impacto da inserção de úbere anterior foi semelhante com riscos relativo de descarte funcional 1,4 x maior e risco verdadeiro 2,0 x maior em vacas com úbere mal inserido. Outras características de impacto foram largura e altura de úbere posterior, ligamento médio e colocação de tetas.
 
De modo muito semelhante em um trabalho com aproximadamente 116.000 vacas Holandesas na República Checa, a profundidade, inserção anterior e ligamento médio foram as características mais relacionadas à longevidade funcional das vacas (ZAVADILOVA et al., 2011).

Devido à importância da seleção para sistema mamário, na maioria dos índices de seleção oficiais, há os compostos de úbere na maioria dos índices de seleção oficiais. É o caso do mérito líquido (NM$), índice de Performance Total (TPI) e Jersey Performance Index (JPI) nos Estados Unidos 8, 11 e 13,8% da pontuação final, respectivamente e no Lifetime Performance Index (LPI) do Canadá, com peso de aproximadamente 16 e 13% para as raças Holandesa e Jersey, respectivamente.

Visando permitir que no futuro tenhamos vacas com úberes que suportem elevadas produção, com baixos níveis de células somáticas, indica-se a seleção para úberes com boa inserção anterior, sem excesso de profundidade, com ligamento médio e tetos adequadamente colocados.
 
Ao mesmo tempo a seleção para altura e largura de úbere posterior, características positivamente correlacionadas com produção de leite, permitirá que parcela considerável do tecido secretor esteja implantada na parte posterior do úbere, sem prejudicar a saúde da glândula mamária.

Referências bibliográficas

BOETTCHER, P.J.; DEKKERS, J.C.; KOLSTAD, B.W. Development of an udder health index for sire selection based on somatic cell score, udder conformation, and milking speed. J Dairy Sci, v. 81, p.1157-68, 1998.

CARAVIELLO, D.Z.; WEIGEL, K.A.; GIANOLA, D. Analysis of the relationship between type traits, inbreeding, and functional survival in Jersey cattle using a Weibull proportional hazards model. J Dairy Sci, v. 86, p.2984-9, 2003.

CARAVIELLO, D.Z.; WEIGEL, K.A.; GIANOLA, D. Analysis of the relationship between type traits and functional survival in US Holstein cattle using a Weibull proportional hazards model. J Dairy Sci, v. 87, p.2677-86, 2004.

CARAVIELLO, D.Z.; WEIGEL, K.A.; SHOOK, G.E.; RUEGG, P.L. Assessment of the impact of somatic cell count on functional longevity in Holstein and Jersey cattle using survival analysis methodology. J Dairy Sci, v. 88, p.804-11, 2005.

CARDOZO, L.L.; THALER NETO, A.; SOUZA, G.N.; PICININ, L.C.; FELIPUS, N.C.; RECHE, N.L.; SCHMIDT, F.A.; WERNCKE, D.; SIMON, E.E. Risk factors for the occurrence of new and chronic cases of subclinical mastitis in dairy herds in southern Brazil. J Dairy Sci, v. 98, p.7675-85, 2015.

MOREK-KOPEC, M.; ZARNECKI, A. Relationship between conformation traits and longevity in Polish Holstein Friesian cattle. Livestock Science, v. 149, p.53-61, 2012.

NASH, D.L.; ROGERS, G.W.; COOPER, J.B.; HARGROVE, G.L.; KEOWN, J.F. Heritability of intramammary infections at first parturition and relationships with sire transmitting abilities for somatic cell score, udder type traits, productive life, and protein yield. J Dairy Sci, v. 86, p.2684-95, 2003.

NASH, D.L.; ROGERS, G.W.; COOPER, J.B.; HARGROVE, G.L.; KEOWN, J.F.; HANSEN, L.B. Heritability of clinical mastitis incidence and relationships with sire transmitting abilities for somatic cell score, udder type traits, productive life, and protein yield. J Dairy Sci, v. 83, p.2350-60, 2000.

PARIZOTTO FILHO, R. Avaliação de características de tipo e condição corporal em vacas Holandês e mestiças Holandês x Jersey. Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages - SC, 2015. 82 p.

PEREZ-CABAL, M.A.; ALENDA, R. Genetic relationships between lifetime profit and type traits in Spanish Holstein cows. J Dairy Sci, v. 85, p.3480-91, 2002.

SEWALEM, A.; MIGLIOR, F.; KISTEMAKER, G.J.; VAN DOORMAAL, B.J. Analysis of the relationship between somatic cell score and functional longevity in Canadian dairy cattle. J Dairy Sci, v. 89, p.3609-14, 2006.

VALLOTO, A.A. Características lineares de tipo e produção em vacas primíparas, parâmetros genéticos. Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba - PR, 2016. 106 p.

VANRADEN, P.M.; SANDERS, A.H.; TOOKER, M.E.; MILLER, R.H.; NORMAN, H.D.; KUHN, M.T.; WIGGANS, G.R. Development of a national genetic evaluation for cow fertility. J Dairy Sci, v. 87, p.2285-92, 2004.

WEIGEL, K.A. Cow longevity: how trait s enhanced or reduce a cow's life. Hoard’s Dairyman, v. 147, p.230, 2002.

ZAVADILOVA, L.; NEMCOVA, E.; STIPKOVA, M. Effect of type traits on functional longevity of Czech Holstein cows estimated from a Cox proportional hazards model. J Dairy Sci, v. 94, p.4090-9, 2011.
 

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ANDRÉ THALER NETO

LAGES - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 10/08/2016

Obrigado João Leonardo. Para nós que trabalhamos com pesquisa é muito interessante confrontar os resultados das pesquisas com vossas observações de campo
JOÃO LEONARDO PIRES CARVALHO FARIA

MONTES CLAROS - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 10/08/2016

Ótimo texto, cruzamentos sem seleção para profundidade de úbere entre animais Holandês e Jersey culminaram em vacas com problemas de úbere mais baixo e consequentemente maiores taxas de descarte, em Minas Gerais.
ANDRÉ THALER NETO

LAGES - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 10/08/2016

Caro Newton. Obrigado pelas considerações. concordo contigo: quem trabalhar com cruzamento Holandês x Jersey deve dar muita ênfase à seleção para profundidade de úbere
NEWTON JODAS GONÇALVES

TAPEJARA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 10/08/2016

Olá! Parabéns pelo artigo. Trabalho com leite , há algum tempo e percebo que estes cruzamentos chamados "Jersolando" realmente apresentam uma taxa maior de descarte em função da profundidade de úbere! Mas isto, virou moda aqui no Noroeste Paranaense, e os produtores parecem não acreditar nesta verdade, sobretudo, não tendo nenhuma preocupação com melhoramento genético.

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