“A Levitare começou acidentalmente. Meu pai era engenheiro agrônomo e a princípio trabalhava com leite bovino e produção de queijos, como o tipo Gouda. Na região da propriedade, existiam alguns produtores de leite de búfala e fizemos uma experiência processando-o, o que acabou gerando uma rentabilidade interessante. Como na época o Governo do Estado de São Paulo havia lançado um programa que fomentava a criação de búfalas no Vale do Ribeira, nós aproveitamos e aderimos, iniciando artesanalmente a produção queijeira no ano de 2000”, contou Jorge Nakid, diretor comercial e proprietário da Levitare, localizada em Sete Barras/SP.
A novidade agradou os consumidores pelo sabor diferenciando dos produtos e eles passaram a ser comercializados também para algumas pizzarias. Com a expansão do negócio e do número de fornecedores, em 2004 nasceu a marca Levitare e com ela a formalização do negócio e início da construção do laticínio. “Pegamos carona em um outro programa de fundo de desenvolvimento do Vale do Ribeira, que trabalhava com juros mais baixos, e finalizamos a primeira etapa da construção. A expansão, desde então, foi ocorrendo naturalmente”.
Hoje a região é uma bacia leiteira e a Levitare conta com 140 fornecedores de leite de búfala. “Começamos artesanalmente com produção própria, depois terceirizamos toda a produção, inclusive fornecendo búfalas nossas para alguns produtores. No ano passado nós voltamos com a produção própria e hoje produzimos também com o nosso leite. A ideia é aumentar a nossa produção, fomentar a atividade e contribuir com o desenvolvimento dos nossos fornecedores”.
A captação do leite dos fornecedores abrange várias cidades da região, chegando até a Colombo/PR, que se situa a 300 km da fábrica. “Desde abril do ano passado passamos a trabalhar com o SIF e temos clientes no Brasil inteiro. Estamos abrindo redes regionais em todos os estados. O nosso produto está bastante disseminado”.
Entressafra
Para Jorge, a maior dificuldade em trabalhar com búfalas de leite é a entressasafra na produção leiteira. “As búfalas são sazonais e o pico de cria ocorre nos meses de fevereiro e março – 90% delas criam nesse período. Já o pico na produção de leite ocorre nos meses de junho e julho. Quando chega os meses de outubro e novembro, os animais se encontram no final da lactação e estão praticamente secando. Na safra, trabalhamos com quase 30 mil/litros/dia, e no fim desse período, com 10 mil/litros/dia. Esse é o maior gargalo na criação de búfalas, até porque o consumo de alguns queijos cresce no verão – como a mozzarella bolinha, o queijo frescal, entre outros”, pontua Jorge.
Segundo ele, o único produto que pode ser estocado são as barras de queijo mozzarella para fatiar de 4 kg, que hoje corresponde à 35% das vendas da empresa. “Os produtos frescos ficam em falta no mercado na entressafra. Tentamos dessa forma render com a venda das barras no food service”.
Com relação à raça dos animais, o rebanho é mesclado. “Começamos com a raça Murrah, um gado indiano, mas ao longo do tempo fomos trabalhando também com sêmen da raça italiana Mediterrânea. A produção diária de leite de cada animal é de 4 a 5 litros. No período total de lactação (270 dias), cada fêmea produz em média 1000-1200 litros”.
Qualidade
Pioneira, a Levitare criou um sistema de bonificação por qualidade este ano chamado de “Pró-Bufála”. De acordo com Nakid, o programa visa contribuir com a profissionalização do setor e leva em consideração a CCS (Contagem de Células Somáticas), a CBT (Contagem Bacteriana Total), o volume de produção e a produção na entressafra. “O objetivo é criar uma cultura relacionada à qualidade. O valor de referência para o litro de leite é R$ 1,98, porém, pode chegar a R$ 2,30. Nosso leite é analisado pela Clínica do Leite”.
Além disso, dois zootecnistas que trabalham na propriedade da família Nakid também são disponibilizados para as fazendas dos fornecedores – dando suporte e corrigindo falhas - além de incentivarem a ordenha mecânica (hoje aderida por 90% dos produtores) e o uso de tanques de expansão. “A ideia é ajudar os produtores a terem qualidade. Queremos aumentar a produção de leite por animal na nossa planta e fazer com que os produtores entendam que o manejo, a nutrição e o trato são importantes. Queremos ser referência para eles – tanto pela qualidade, como em termos de escala”.
Produtos zero lactose e tendências de consumo
O ano de 2016 também foi marcado pelo lançamento da linha de queijos zero lactose 100% leite de búfalas. Estar atento nas inovações, novidades e tendências de mercado é prioridade para a Levitare. A linha é composta pelo Minas Padrão, Mozzarella, Frescal e Requeijão. Além da linha zero lactose, outros produtos também deram as caras no mercado, como a trança, o parmesão e a manta. “Cada vez mais aprimoramos o nosso produto fazendo um trabalho de degustação aos consumidores. Queremos adequar os produtos aos brasileiros e alinhar um conceito. Não é tudo que faz sucesso lá fora que tem a mesma repercussão aqui. Disponibilizamos hoje 20 diferentes itens ao mercado”.
Nesse contexto, a marca ousou e criou uma embalagem que realça a cor preta. “A aceitação foi ótima, pois imprimiu um ar premium aos produtos. Ao longo dos anos, o consumo vem aumentando e atribuímos isso aos reality shows de culinária na TV e redes sociais e aos chefs de cozinha que popularizaram o queijo de búfala. A versatilidade e a leveza do produto contribuem para isso”.
Para Jorge, além do paladar, o conteúdo nutricional do queijo de búfala atrai o público – que é diferenciado, de nicho e ainda muito restrito, o que gera ânimo ao mercado, que acredita no potencial de ampliação do setor.
Produzindo em torno de 700-720 toneladas de queijos por ano, a companhia registrou crescimento de 20% neste ano, menos do que 2015, mas o suficiente para não ser abalar com a crise.
Jorge acredita que o queijo de búfalas ainda pode contribuir muito com a experiência gastronômica no Brasil e faz um apelo para que a cadeia seja mais fiscalizada e protegida. “Alguns produtos encontrados no mercado hoje são vendidos como 100% búfalas, mas, clandestinamente, na sua composição, há também leite de vaca. Isso é muito negativo e atrapalha o nosso mercado, pois confunde os consumidores. Em épocas na qual o preço do leite de vaca está baixo, essa prática é muito comum”, finaliza.
Confira o vídeo da Levitare: