Para Fabio Scarcelli, presidente da ABIQ, é muito gratificante a participação do público e de todos os apoiadores. As palestras foram bastante diversificadas, com temas importantes e assuntos variados – atendendo as expectativas de todos. Segundo ele, o mercado de queijos brasileiro é muito complexo, mesmo não levando em conta o que ocorre fora do país. “Com a queda na produção de leite que tivemos este ano, prevemos que o ano de 2017 será complicado. A produção vem diminuindo e forçando um pouco as importações, o que para nós produtores não é interessante”.
Com o desequilíbrio deste ano, o presidente destacou que o comportamento dos consumidores é reduzir o consumo dos queijos especiais. “Alguns consumidores estavam começando a se aventurar neste segmento, mas, estão recuando o consumo novamente para os queijos mais baratos. Quem estava saindo do tipo minas padrão para o gorgonzola ou provolone, acabou voltando para o minas padrão – pois é o que cabe no bolso. A parte boa é que este comprador teve a chance de experimentar um outro tipo de queijo – fato que é muito positivo para a atividade”.
Outro fator importante ressaltado foi que conforme o orçamento aperta, o consumo de queijos via fast food cai, mas ao mesmo tempo, as vendas de queijos no supermercado aumentam – pois a alimentação no lar volta a ser prioridade. “O consumo de muçarela por exemplo não diminui. Se há redução da venda para as pizzarias, aumentam as vendas no varejo. Isso inclusive está acontecendo agora no nosso mercado”.
Questionado sobre as expectativas, Fábio acredita que a economia apresentará melhorias até o fim do ano e consequentemente, aumento do consumo. “A minha torcida é que pelo menos o consumo deste ano seja igual ao do ano passado. Se nós conseguirmos manter esses números, já será um ótimo motivo para comemorarmos. Acho difícil que o consumo aumente neste ano – até porque temos uma menor produção de leite. E, a importação de queijos – mesmo tendo dobrado de quantidade – felizmente ainda é suportável para o setor”.
De acordo com Scarcelli, pensando no tripé queijo, leite UHT e leite em pó, a produção de cada um deles na indústria ‘dança conforme a música’. “Quando um dos produtos não está bem no mercado, o outro passa a ser produzido em maior quantidade. Ocorre uma migração”.
Com relação à participação dos queijos no mercado brasileiro, a ABIQ estima que o crescimento do consumo de muçarela passou de 28% em 2013 para 30% neste ano. Essa situação se relaciona a atributos como praticidade, preço e fácil uso na culinária. Junto com a muçarela, o requeijão também mostrou crescimento, diferente do queijo prato, que perdeu um pouco de mercado.
“Antigamente as pessoas tinham o costume de fazer lanches com queijo prato e presunto mas hoje, a muçarela é a primeira escolha. O consumo de queijos especiais está crescendo lentamente e os hábitos dos brasileiros ainda contribuem muito para isso”, acrescentou Fábio, que espera que o consumo de queijos cresça como nos anos anteriores e salte de 5,3 quilos per capita para 7,5 quilos em 2020. “Esse é um dos principais desafios da ABIQ. Essa expansão é ambiciosa, mas ainda podemos usufruir do marketing e campanhas para isso”.
Com exceção do leite fluido, o consumo de iogurtes e queijos no Brasil ainda é baixo comparado a alguns países. “Existe um vasto campo a ser desbravado, até porque, o queijo é um produto nutritivo. Fora do país, a presença de queijos porcionados destinados para lanches e consumo rápido é muito comum. Não adianta a gente querer vender peças de cinco quilos – precisamos focar nos pedaços de 30 gramas, que facilitem o consumo no dia a dia. Até em churrascos eu creio que ainda conseguimos aumentar o consumo – pois vemos apenas o queijo coalho presente. Nós ainda vamos chegar lá”.
A ABIQ realizou uma pesquisa há alguns anos com consumidores e 95% deles responderam que gostam e aprovam os queijos. “Quando a renda cresce 1%, o consumo de lácteos cresce 1,2%. As pessoas querem consumir mais, porém, a renda domiciliar e a sua oscilação não vêm contribuindo. Eu estou muito otimista e acredito que vamos voltar a ver um crescimento anual do setor de 8,5% a 10%, como ocorreu nos últimos cinco anos, com exceção de 2015, que foi de 2,9%. Estamos acostumados a trabalhar na crise e com certeza passaremos por mais essa. Ainda não conseguimos mensurar o crescimento deste ano”, finalizou Fabio.