Rodger Douglas, sócio-diretor da Agropecuária Sete Copas, localizada em Jaborandi/BA, atuou na DairyNZ como Trainee Consulting Officer e, enquanto trabalhava lá, iniciou um projeto leiteiro em parceria com seus dois irmãos, a ITR Ag Ltd. Na Nova Zelândia. Eles comandam quatro fazendas leiteiras em vários modelos de parceria. Já a Agropecuária Sete Copas - aqui no Brasil - conta com duas unidades produtivas no oeste baiano, para 700 e 1100 vacas, respectivamente, e opera em parceria com a Leitíssimo, fornecendo o leite para o laticínio. O projeto está no seu segundo ano de produção na primeira fazenda e iniciando a atividade na segunda. Para ele, a grande vantagem de investir no Brasil é o custo de investimento e o custo da terra. Em terras brasileiras, ele produz de duas a três vezes mais por hectare comparado à Nova Zelândia.
O sistema atual é baseado em pastagens irrigadas por pivô, suprindo 60-70% das necessidades nutricionais do rebanho, além de uma suplementação alimentar para aumentar a produtividade dos animais. A produção é sazonal, tendo duas estações de parição: agosto a outubro e março a maio.
O custo variável para a produção de pasto é de R$ 0,10 a R$ 0,15/kgMS e a suplementação proteica na dieta é a parte mais onerosa. Nas propriedades que fazem parte da Agropecuária, Rodger frequentemente testa forrageiras diferentes. “O manejo de pastagem é uma arte e bastante complexo. O ideal é ver o sistema de forma global e durante o ano todo. O nosso principal foco é o pasto. Nas nossas fazendas nós temos o controle de tudo e sempre sabemos o que acontece de um dia para o outro. Analisamos os números e maximizamos as vantagens e não as desvantagens desse sistema”, completou.
Produzir leite com qualidade e lucratividade é também uma meta do também neozelandês Owen Williams – produtor de leite por mais de 25 anos na Nova Zelândia e produtor há mais de 12 anos no Brasil e Equador. Hoje ele é sócio diretor da Kiwi Pecuária e da Fazenda Capoeira, que compõe o Grupo Kiwi. Ambas estão situadas no Estado de Goiás e contam com investidores no Brasil. Juntas, elas totalizam 27 mil litros de leite/dia. O objetivo do grupo é expandir a produção para 45 mil litros de leite até 2018 e 80 mil litros até 2025 – concomitantemente com a expansão das unidades.
O objetivo das fazendas é usar o pasto com umas das fontes de energia, proteína e fibras. “É muito mais barato! As vacas comem diretamente no pasto, evitamos custos com máquinas e o esterco é espalhado naturalmente no pasto. No meu ver, o sucesso agronômico e financeiro só acontece quando temos alta utilização de pasto e alta lotação por hectare”, considerou Owen. Os animais são cruzados com a raça Holandesa e Jersey – essa última de genética neozelandesa. Os sólidos totais do leite produzido alcançam 4% de gordura e 3,7% de proteína.
Nas fazendas, as bezerras são desmamadas com 95 quilos e o objetivo é inseminá-las com 15 meses de idade para que a primeira parição seja com 24 meses. A média de produção por animal/dia é de 17 litros.
Sobre a infraestrutura, o pasto usado é o Tifton 85 e eles não abrem mão da aveia e do azevém no inverno. Cada piquete, de 2,4 ha cada, possui dois bebedouros de água e cercas elétricas permanentes e móveis. O pasto é irrigado e a topografia é plana, além dos solos com alta fertilidade e boa drenagem. “Buscamos sempre a melhor qualidade para o rebanho e por isso, o pasto é medido e avaliado semanalmente. Os dados são colocados em uma planilha que calcula e define a ordem de entrada nos piquetes – buscando o ponto ótimo de entrada e o momento certo de saída (entrada com 25 cm e saída com 12 cm). Quando sobra pasto, usamos para fazer silagem de forragem”, descreveu.
Já que a pastagem apresenta alguns limites nutricionais, as fazendas do Grupo fazem uma suplementação nutricional que é dada duas vezes ao dia e normalmente é composta por silagem de milho e de pasto, milho moído, gérmen de milho, farelo de soja, casca de soja, polpa cítrica, cevada, levedura e minerais. A escolha dos ingredientes depende do preço e da disponibilidade no mercado.
Acreditando no grande potencial do Brasil em produzir leite a pasto, o último palestrante do painel foi José Renato Chiari, produtor de leite da Agropecuária Chiari, em Morrinhos/GO.
Ele trabalha com irrigação, diferentes tipos de suplementação e corrige anualmente o solo devido principalmente à carência de enxofre. Preocupado também com o bem-estar dos animais, José Renato trabalha com cochos móveis para evitar barro e reduzir a distância de onde as vacas estão. “A ideia do conforto é trabalhar sempre com sombra e manter as vacas recém-paridas separadas das vacas que estão em lactação. Também prezamos pelo conforto na sala de espera e ordenha”. De acordo com Renato, recentemente foi feito um teste com termômetros vaginais nas vacas por três dias e constatou-se que os animais não estavam em estresse térmico – prova de que o zelo nesse âmbito vem dando certo.
O pasto é o único volumoso de 9 a 10 meses do ano e, nos meses mais críticos, a pressão do pastejo é diminuída retirando parte dos animais – que são confinados em uma pastagem de inverno. A suplementação também é usada na fazenda duas vezes ao dia – após as ordenhas – em boxes individuais. O volume varia de acordo com a produção de cada lote, chegando a 12 kg/animal/dia.
“É necessário um alto consumo de forragem, por isso, tentamos disponibilizá-la com qualidade minimizando o déficit energético dos animais. Buscamos adequar as condições de manejo e de animais para a obtenção de sucesso. Administrar essas variáveis de forma equilibrada para obter balanço nutricional adequado, bem estar animal e consequentemente saúde, reprodução e produção é o nosso grande desafio”, acrescentou.
Perguntado sobre o custo operacional efetivo da produção no pasto, Chiari respondeu dizendo que ele é menor comparado ao sistema intensivo. Sobre o grau de sinergia com outras culturas, segundo ele, o leite sempre leva vantagem, pois a produção é mais estável comparada, por exemplo, à cebola, batata e alho. Sobre a presença de carrapatos, ele diz trabalhar em ciclos para controlar o ectoparasita e também usufrui do nitrogênio via fertirrigação – que mata as ninfas.