Para moderar o quinto painel com a temática “Compost barn na prática” do Interleite Brasil 2016 o convidado foi Adriano Seddon, da Alcance Rural – um dos profissionais que trouxe o sistema para o Brasil.
Impulsionado pelas intempéries climáticas, dificuldades operacionais com o crescimento do rebanho, custo fixo elevado, baixa produtividade por vaca e qualidade do leite insatisfatória, Pedro Nunes, produtor de leite de Itaúna/MG, optou pelo uso do compost barn na sua propriedade, a Fazenda Brejo Alegre. A fazenda tem 115 hectares, foi adepta da produção de leite a pasto durante 15 anos e produz hoje 32 mil litros/ha/ano.
“Quando eu decidi optar pelo composto, transformei áreas de pastagem e cana-de-açúcar em lavouras de milho e passei a importar forragens de outras propriedades para suprir o déficit. E por que a mudança? Quisemos aproveitar estruturas existentes na fazenda – como prédios antigos e ociosos - e exploramos a facilidade de manejo dos dejetos. Os animais se adaptaram imediatamente às instalações e obtivemos melhores índices produtivos, reprodutivos, de longevidade e de locomoção”, avaliou. Segundo Pedro, outro ganho percebido foi no tempo de ordenha. “Ganhamos 40 minutos em cada uma delas”.
O cronograma utilizado pela Brejo Alegre contemplou 1 mês para a tomada de decisão, discussão com a assessoria técnica, consultoria especializada, visita à propriedades e revisão de literatura. Na sequência, mais 1 mês foi usando para o planejamento e contratação de serviços. Dois meses foram gastos para a execução do primeiro galpão e o primeiro lote de vacas foi instalado em 4 meses. “Priorizamos a instalação em um lugar seco, bem drenado e protegido de enxurradas, sem contar com o pé direito alto, ventilação eficiente e pista de trato e bebedouros separados da cama”, acrescentou. O espaço por animal é de 10 m²/vaca e há facilidade para o acesso de tratores e caminhões.
Para que o sistema traga os benefícios esperados, o manejo diário é fundamental. A avaliação da cama, raspagem da pista, escarificação da cama duas vezes ao dia e reposição de cama se necessário são exemplos de ações comuns na propriedade mineira. Toda essa atenção especial fez com que em 10 meses a produção de leite/vaca/dia saltasse de 23,7 litros para 30,2 litros. Em outros quesitos os resultados também vieram e foram bastante notáveis nos quesitos qualitativos: a CBT (Contagem Bacteriana Total) caiu de 12 mil ufc/ml para 4 mil ufc/ml e a CCS (Contagem de Células Somáticas) de 480 mil cél/ml para 270 mil cél/ml. Outros ganhos aparentes foram a docilidade dos animais, melhora acentuada na locomoção das vacas, melhor controle de ectoparasitas, entre outros.
“O confinamento em sistema de compost barn nos atendeu de forma ágil e efetiva, mantendo-nos competitivos na atividade leiteira. As nossas expectativas continuam altas! Inclusive, pretendemos aumentar a longevidade dos nossos animais por meio da menor mortalidade. Pretendemos também valorizar o rebanho reduzindo o descarte involuntário”.
Na mesma linha, Ari Belmiro, produtor de leite de Formiga/MG, encontrou motivação para o uso do compost barn procurando otimizar o espaço da sua fazenda, a Roda D`Água. Para ele, a eficiência do sistema é dependente de outros fatores como genética dos animais, disponibilidade de volumoso, viabilidade econômica e principalmente mão de obra. “No meu caso, não reduzimos a mão de obra, já que precisei contratar mais um funcionário. Em compensação, o manejo se tornou muito mais fácil (principalmente no verão), sem contar o maior conforto para as vacas, a melhoria das condições de trabalho e o reaproveitamento da matéria orgânica”, considerou.
Outras conquistas apresentadas por Ari foram na área de sanidade, pois o índice de mastite diminuiu e ele eliminou o uso de carrapaticidas em 100%.
Em setembro de 2014, quando os animais ficavam nos piquetes, a produtividade das 150 vacas era, em média, 25 litros/vaca/dia. Um ano depois, já usufruindo do compost barn, a produtividade aumentou e passou para 31,3 litros/vaca/dia. A contagem de células somáticas (CCS) saiu de 385 mil cél/ml em setembro/2014, para 265 mil cél/ml em setembro/2015. A contagem bacteriana total também foi reduzida pela metade (de 16 mil ufc/ml para 8 mil ufc/ml, no período mencionado).
“No meu ver, ter bons funcionários é essencial. Confesso que esse é um dos meus segredos. Trabalhamos com baixa rotatividade do pessoal e isso deixa o negócio mais robusto com um todo. É importante também os bons parceiros na atividade, a gestão responsável controlada e o apoio da família”.
As melhorias via compost barn também foram notadas na Fazenda Estância do Leite, propriedade de Evando Alves Ferreira, de Patos de Minas/MG. A palestra foi proferida por Gabriel Ferreira, sobrinho de Evando que também atua na produção leiteira da família. Hoje a propriedade produz 8.400 litros/dia e possui no momento 250 vacas em lactação. “Nós somos apaixonados pela atividade e fomos em busca de melhorias. Já estamos usando o compost barn há um 1 ano e 10 meses. Nos tornamos tão adeptos que hoje nosso lote pré-parto também fica dentro do composto. Notamos ótimos resultados com a implantação, principalmente no verão, já que os pastos eram distantes e tínhamos incidência aparente de estresse térmico”.
Gabriel relatou que o descarte de animais antes da mudança era alto (100 vacas/ano) e a produção de leite nas épocas mais quentes caia significativamente. “Condições melhores de trabalho e casos graves de mastite também nos encorajaram a modificar as condições. Inclusive, o uso de antibióticos diminuiu”. A redução na incidência de mastite passou de 15-20% para 2-4% ao mês. “Considerando que cada caso de mastite custa de R$ 400 a R$ 500 (medicamentos e descarte de leite), economizamos aproximadamente R$12 mil por mês”.
Na Estância do Leite, manter a cama seca é uma das metas. Por isso, ela, que é composta por casca de café, é revolvida de duas a três vezes ao dia e é sempre muito bem ventilada. Segundo Caio, os resultados já apareceram: as vacas estão chegando à ordenha com muito mais saúde e houve redução na perda de animais. Com relação à qualidade do leite, a variação da CCS se tornou menor do que antes e a bonificação pelo produto ajudou no fechamento das contas. “Por litro de leite, passamos a receber + R$ 0,08. Na situação atual, isso representa R$ 674,00 por dia, R$ 20.220 mil por mês e R$ 242.640 mil por ano”, calculou Gabriel.
A fazenda também teve um incremento de R$ 0,04 no lucro unitário anual com a venda de matéria compostada, o uso de carrapaticidas para vacas em lactação foi eliminado e 30% a mais de leite foi produzido nos meses de baixa produção. “Procure sempre um sistema de produção que garanta conforto para os animais e para os seus funcionários. Assim como as vacas, quem trabalha todos os dias precisa de boas condições de trabalho para executar suas funções da melhor forma possível”, encerrou o palestrante.
No debate após as palestras, um ouvinte questionou sobre o gasto de energia elétrica devido ao uso intenso dos ventiladores no compost barn. Na fazenda de Pedro Nunes, que mantém 24 horas os ventiladores funcionando (menos no inverno), o incremento no custo foi de R$ 0,05/litro. Ari Belmiro não sentiu alterações e sugeriu um profissional capacitado para distribuir bem as réguas de energia. Já Gabriel notou um incremento de R$ 3 mil a R$ 4 mil por mês, porém, frisou que é irrisório perto dos ganhos que o compost barn proporciona. Sobre o valor investido, na propriedade de Ari o valor foi de R$ 3.300 mil/animal e na de Gabriel, R$ 2 mil/animal.
Outro ponto levantado pelo público foi se o sistema está caminhando para se tornar o principal modelo brasileiro de produção de leite e se já conseguimos avaliar as experiências por meio de um histórico no país. Para Adriano, o moderador do painel, só o tempo dirá. “O compost barn existe nos Estados Unidos desde 1986 e não se vê problemas novos. Os principais entraves estão relacionados aos problemas de manejo e não vejo gargalos sanitários”, comentou. Pedro acredita que o sistema em breve será dominante nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. “Essa questão vai depender das outras atividades que o produtor desenvolve. Não acredito que seja o programa do futuro, pois todos os programas funcionam bem quando manejados adequadamente”, complementou Gabriel.
Carlos Eduardo Carvalho, vencedor do Troféu MilkPoint Impacto 2016, ponderou que todos os sistemas são viáveis, quando bem executados. Como exemplo, ele falou dos produtores que participaram do painel sobre produção a pasto, que reportaram altas produtividades e resultado econômico.
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