Figura 1. Lesões tuberculosas (seta) no úbere de vaca infectada.
Fonte: Flábio Araújo.
No Brasil, desde 2001, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) instituiu o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e TuberculoseAnimal (PNCEBT), o qual foi regulamentado em 2004. Este programa visa baixar a prevalência e a incidência da brucelose e da tuberculose e certificar um número elevado de estabelecimentos de criação, nos quais o controle e a erradicação destas enfermidades sejam executados com rigor e eficácia, objetivando aumentar a oferta de produtos de baixo risco para a saúde pública.
O PNCEBT regulamenta o diagnóstico da tuberculose bovina no Brasil, por meio do uso de provas intradérmicas, que consistem na injeção de um composto de proteínas da bactéria denominado Derivado Proteico Purificado ou PPD. Animais infectados manifestam um aumento localizado da espessura da dobra da pele 72 horas após a injeção do PPD, o qual é medido com o auxílio de um cutímetro (Figura 2).
Figura 2. Leitura da espessura da dobra da pele com cutímetro, na prova intradérmica para tuberculose com PPD.
Fonte: Flábio Araújo.
As provas intradérmicas são feitas por médicos veterinários, habilitados pelo Mapa, que devem marcar os animais reagentes positivos a ferro candente no lado direito da cara com um “P” (positivo) conforme Figura 3. Estes animais deverão ser isolados de todo o rebanho e sacrificados, no prazo máximo de 30 dias após o diagnóstico, em estabelecimento sob serviço de inspeção oficial indicado pelo serviço de defesa oficial federal ou estadual.
Figura 3. Animal positivo para tuberculose ao teste intradérmico, marcado na face com um “P”.
Fonte: Flábio Araújo.
As provas intradérmicas detectam a chamada resposta imune celular dos animais à infecção por M. bovis. No entanto, esta não é a única resposta produzida na infecção. Os animais também respondem produzindo anticorpos contra a bactéria. De fato, parte dos animais, sobretudo aqueles em estágios mais avançados da doença, com lesões extensivas, passam a não responder aos testes intradérmicos (reações falso-negativas), podendo permanecer infectados dentro dos rebanhos.
O PNCEBT reconhece, em seu artigo 33, a importância da constante busca por melhores alternativas de diagnóstico, face aos avanços tecnológicos resultantes da pesquisa científica. A Embrapa, como braço de pesquisa do Mapa, tem entre as suas atribuições o papel de gerar tecnologias para o apoio aos programas sanitários oficiais. Nesse contexto, a Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS) desenvolveu um teste para a detecção de anticorpos contra a bactéria causadora da tuberculose bovina.
Este teste, denominado ensaio de imunoadsorção enzimática – ELISA, é feito usando um antígeno recombinante, ou seja, uma substância produzida por engenharia genética, o qual reage com anticorpos presentes no soro de bovinos/bubalinos com tuberculose. Ao final do teste, ocorre formação de uma coloração nas amostras positivas (Figura 4), a qual é medida em um aparelho, gerando uma intepretação de positivo ou negativo, dependendo da intensidade da coloração.
Figura 4. Placa de ELISA para tuberculose, mostrando coloração amarelada (seta) em poços com soros positivos para anticorpos contra a bactéria causadora da tuberculose bovina.
Fonte: Flábio Araújo.
A Embrapa Gado de Corte foi contactada por uma empresa americana, em conjunto com uma distribuidora no Brasil, que mostrou interesse em comercializar o teste em diferentes países. A parceria incluiria testes de estabilidade, produção de embalagem para o kit, distribuição e validação do produto nos serviços oficiais de defesa sanitária dos distintos mercados, incluindo o Brasil.
A vantagem do uso do teste ELISA seria o aumento da cobertura diagnóstica, ou seja, quando usado em conjunto com as provas intradérmicas, animais em diferentes estágios da infecção poderiam ser diagnosticados com maior eficiência, acelerando o saneamento de propriedades com tuberculose.
Os cuidados com a tuberculose bovina podem ser resumidos nos seguintes pontos:
• Não existe vacina nem tratamento para a tuberculose bovina, portanto a prevenção da entrada da doença é a chave do controle.
• O produtor deve ter o cuidado de adquirir apenas animais negativos ao teste intradérmico para tuberculose. Quando os animais não tiverem este teste, o produtor deve solicitar o exame a um médico veterinário habilitado, antes de realizar a compra.
• Seguir a regulamentação de controle da tuberculose bovina, descrita na normativa do PNCEBT, com a identificação e eliminação de animais infectados.
• Não ingerir leite e derivados crus. Estes são veículos de diversas doenças, incluindo tuberculose.
Para saber mais, consulte o manual técnico do PNCEBT disponível AQUI:
Flábio Ribeiro de Araújo é pesquisador da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, MS. É também Bolsista de Produtividade Desen. Tec. e Extensão Inovadora do CNPq - Nível 2.
Página institucional: https://pandora.cnpgc.embrapa.br/staff/Flabio-Araujo