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Brasil leiteiro de Sul a Norte - São Paulo

POR ANTÔNIO CARLOS DE SOUZA LIMA JR.

ESPAÇO ABERTO

EM 14/07/2014

7 MIN DE LEITURA

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Em nossa caminhada pelo leite brasileiro fechamos a primeira parte com a abordagem dos três estados da Região Sul e que juntos produzem um terço do leite do país. Vamos publicar nestas três semanas sobre o Sudeste, onde temos outro pedaço do Brasil, com mais 36% da produção nacional. Abordarei sobre São Paulo (14/7), Minas (21/7) e Rio de Janeiro/Espírito Santo (28/7). Terminado o Sudeste, faremos uma interrupção da série, tendo em vista minha ausência do país por quarenta dias para um curso em Cambridge, quando retomaremos com mais quatro artigos sobre os estados de Goiás, Mato Grosso/Mato Grosso do Sul, região Nordeste e Norte. A série se completará com dez artigos.

Em São Paulo, permaneci durante 13 anos na capital como Assessor Agropecuário da Nestlé Brasil. Alguns anos depois, retornei ao Vale do Paraíba, onde gerenciei operações de compras de leite, atuando também no suprimento de plantas na região Noroeste (Votuporanga) e Sudoeste (Presidente Prudente) pelo Consórcio Leitbom/Parmalat e Lácteos Brasil.

O estado apresenta muitos contrastes. A topografia é plana em algumas regiões, como no Oeste, e muito acidentada em outras, como no Vale do Paraíba. A temperatura também varia. A região de Araçatuba, por exemplo, é muito quente, e,no lado paulista da Serra da Mantiqueira, onde se encontra Campos do Jordão, muito fria. O mesmo ocorre com a agricultura como um todo, onde podemos ver atividades altamente tecnificadas e outras com muito menos uso de tecnologia, principalmente quando nos referimos à atividade leiteira.

Três dentre as cinco maiores fazendas de produção de leite do país estão em São Paulo, enquanto o estado ocupa apenas o sexto lugar no ranking nacional, com 1,69 bilhão de litros ao ano, equivalentes a 5,2% do leite produzido no Brasil. No período de 2008 a 2012, baseado nos dados do IBGE, podemos constatar que o estado cresceu a produção de leite em apenas 6,3%, enquanto o país alcançou 17%, tendo o Paraná a maior evolução, com 40%.

Apenas para termos uma referência da produtividade da área do estado em leite, São Paulo, com aproximados 250 mil km2, produz 10 vezes menos leite que a Nova Zelândia, com uma área aproximadamente igual (270 mil km2).

Outra estatística curiosa é que dentre as 20 maiores microrregiões produtoras de leite do país, segundo o estudo elaborado pela Embrapa Gado de Leite,em fevereiro de 2012, baseada nos dados do IBGE, não é possível identificar nenhuma delas em São Paulo.

A produtividade por área também é muito variável. No passado pude visitar com o os técnicos da Embrapa Pecuária Sudeste uma pequena propriedade, em São Carlos, do produtor Tadeu Finochio, com 25.000 litros por hectare/ano suplementada na seca com cana corrigida com uréia + sulfato de amônia e minerais. Um exemplo espetacular de produtividade. Esta propriedade interrompeu a atividade, mas é possível ver tantas outras assistidas por técnicos do Programa Balde Cheio igual ou com superior performance técnica.

A cana compete fortemente em espaço com os grãos e o leite. Muitas áreas planas, às vezes com solos de excelente qualidade, deram o lugar a essa monocultura. Isto acontece com muitas propriedades alugadas por um valor razoável para as usinas.

A raça holandesa pura está presente em excelentes rebanhos especializados, mas nos plantéis paulistas, predominam os mestiços de holandês com as raças zebuínas, principalmente a Gir (Girolando).

Muitas das tentativas para a formação das raças mestiças para produção de leite, que o país experimentou ao longo de sua história leiteira, aconteceram no estado de São Paulo. No Vale do Paraíba, em Pindamonhagaba, surgiu a raça Mantiqueira, produto do cruzamento de touros holandeses de Portugal com vacas comuns da região. O grau de sangue se aproxima de um 7/8 holandês. Em São José do Rio Pardo, a Fazenda Graminha, desenvolveu a Riopardense, 5/8 de holandês e 3/8 guzerá. Outra tentativa de mestiçagem foi raça Pitangueiras que teve como base a raça britânica red poll, mista e tida como rústica, e a guzerá, trazida da Índia, tendo em vista a produção de leite. As fêmeas da segunda geração foram fecundadas por reprodutores red poll, originando mestiços com 5/8 da raça taurina e 3/8 de sangue zebuíno, que receberam a denominação de Pitangueiras.

Uma realidade no setor leiteiro em São Paulo é a saída de grandes produtores especializados do processo produtivo. São muitos os criadores de gado puro que encerraram suas atividades no estado ao longo dos anos, principalmente no Vale do Paraíba e na região de Campinas. O custo elevado da terra, associado a grandes investimentos, especialmente em instalações e rebanhos “de elite”, contribuíram para esta realidade. A atividade leiteira, que é muito marginal, dependente da economia de escala, não é capaz de suportar custos fixos elevados sem a produção compatível.

O principal alimento volumoso é o pasto tropical suplementado na seca por capineiras de cana e/ou capim elefante. A silagem também é inevitável, já que o período de estiagem é longo (maio a setembro). Diferentemente dos estados do Sul do país, favorecidos pelo bom regime de chuvas ao longo do ano, associado às baixas temperaturas, a produção de forrageiras de inverno em São Paulo é quase inexistente.

O estado com a produção atual de leite e com uma população tão grande é o que mais importa leite produzido pelas demais regiões produtoras do país na forma de derivado lácteo ou mesmo “in natura”. Toda indústria de lácteos com Selo de Inspeção Federal (SIF) procura colocar seus produtos em São Paulo. As plantas paulistas são muito dependentes da produção de outros estados, principalmente de Minas Gerais e da região Sul do Brasil. Até o Mato Grosso do Sul, que não é um grande produtor, fornece leite para SP.

A maior distribuição de leite em programas sociais do país também ocorre no estado.

O parque industrial para a produção de lácteos apresenta uma grande ociosidade, provavelmente, uma das mais elevadas do país. São muitas fábricas de pó, UHT, queijos e refrigerados. Grandes plantas tiveram suas atividades encerradas em Porto Ferreira, Jundiaí, Ribeirão Preto, Votuporanga, São Paulo (capital), dentre outras, não por falta de mercado, mas principalmente por falta de matéria prima.

São Paulo é sede e berço das principais organizações do setor: ABIQ, ABILD, LEITE BRASIL, ABLV. A VIVA LÁCTEOS, recém-criada e com sede em Brasília, também foi “gestada” em São Paulo, com o apoio das lideranças de outros estados.

No desenvolvimento dos produtores, a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), é o serviço estadual que oferece assistência aos produtores nos diversos segmentos agropecuários. Alguns projetos independentes focados na produção de leite são encontrados pontualmente, como é o caso do CATI Leite, através do qual foram treinados mais de 100 técnicos com a filosofia do Programa Balde Cheio pela equipe de leite da Embrapa Pecuária Sudeste. A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ ocupa um papel importante na transferência de tecnologia. Lá, no departamento de Zootecnia, o Clube de Práticas Zootécnicas (CPZ), idealizados pelos professores Moacir Corsi e Vidal Pedroso de Faria, formou muitas competências para o leite.

Na ESALQ, foi criado, com o apoio das indústrias, um Centro de Treinamento para capacitação de mão de obra para produção de leite. A fazenda de produção de leite que há muitos anos é referência em intensificação de pastagem, é a base desta unidade. Muitos treinamentos são oferecidos ao longo do ano. Trata-se de um bom exemplo para as instituições de ensino do país.

Na Embrapa Pecuária Sudeste também existe um sistema de produção de leite que tem sido muito utilizado para a geração de pesquisa e na transferência de tecnologia. O programa Balde Cheio, anteriormente mencionado, foi estruturado pelos pesquisadores da Embrapa, e, hoje, tem sido uma escola para formação de técnicos com competência em produção de leite para diversos estados do país.

O Instituto de Zootecnia de Nova Odessa já exerceu um papel muito importante para a geração de tecnologia de produção, em especial, nos estudos de pastagens. Infelizmente, hoje, esta instituição de pesquisa tem menos vigor que no passado.

Em São Paulo como praticamente em toda a região Sudeste, o leite é coletado por transportadoras terceirizadas que são remunerados por km rodado. Esta prática associada à granelização, tem viabilizado a aplicação de ferramentas de otimização da coleta através do aumento do volume coletado por km rodado. Estes aplicativos nacionais ou importados têm viabilizado ganhos logísticos importantes para a competitividade do setor.

Podemos admitir que o estado, embora tenha muitas oportunidades de ganhos de produtividade para o agronegócio leiteiro, não tem tratado o setor com a devida importância econômica e social. Acreditamos que para torná-lo competitivo, é imprescindível otimizar o uso de terra e da mão de obra, que são caros no estado, com muita tecnificação no processo produtivo. O segmento produtor e da indústria têm papel importante para a consecução deste desafio.
 

ARTIGO EXCLUSIVO | Este artigo é de uso exclusivo do MilkPoint, não sendo permitida sua cópia e/ou réplica sem prévia autorização do portal e do(s) autor(es) do artigo.

ANTÔNIO CARLOS DE SOUZA LIMA JR.

A SL Consultoria em Agronegócios é uma empresa criada em agosto de 2014, com sede em Goiânia, tendo a expertise em negócios relacionados com a Cadeia do Leite como seu pilar central. Ela foi projetada pelo seu sócio proprietário, que atuou por 23 ano

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LUCIANO MACHADO DE SOUZA LIMA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 17/07/2014

Tio Carlo, parabéns pela matéria.  Fiz um comentário anterior sobre o centro de treinamento, e esqueci de comentar que foi o senhor que me apresentou o curso. Agradeço por essa oportunidade com me dada. Devo muito ao senhor.
ANTÔNIO CARLOS DE SOUZA LIMA JR.

GOIÂNIA - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 17/07/2014

Caro Nelson Ribas,

É com  maior prazer que disponibilizo ao amigo meu e-mail atual. (souzalimajr@hotmail.com). Me mande seus telefones por e-mail para que eu possa te ligar. Embora tenhamos tido alguns encontros pessoais não consegui visitar sua propriedade mas ainda espero poder fazê-lo. Também tenho interesse em voltar a desenvolver trabalhos no Paraná.

Forte abraço,
ANTÔNIO CARLOS DE SOUZA LIMA JR.

GOIÂNIA - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 17/07/2014

Caro prof. Dr. Dusi, obrigado pelo seu comentário. É muito bom ser avaliado por pessoas, com tantos trabalhos dedicados ao ensino, pesquisa e extensão relacionadas ao setor leiteiro nacional, como você,

Forte abraço,
RODOLFO CLÍMACO

BOM JESUS - SANTA CATARINA - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 16/07/2014

Grande Antônio, ótimo artigo!



Concordo plenamente com as suas duas colocações acima, otimização do uso da terra com aumento da produtividade e lucratividade.

O modelo da CATI serve como exemplo e deveria ser replicado para os demais estados da federação.



Abraço!
JOAO ROBERTO

PRESIDENTE PRUDENTE - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/07/2014

Parabéns! Antonio Carlos



Excelente abordagem do estado de São Paulo, assim como os demais artigos sempre com perspicácia e discernimento. É uma oportunidade impar que todos tem em absorver conhecimento afinado desse excelente profissional e pessoa que você é meu amigo.



Abraço.



João Roberto Valentim
GERALDO ALVIM DUSI

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/07/2014

Prezado Antonio Carlos, parabens pelo artigo. Gostaria de receber seus novos contatos, eletrônico e telefone, para batermos bons papos. Grande abraço do amigo e colega Geraldo Dusi - Polo do Leite
ANTÔNIO CARLOS DE SOUZA LIMA JR.

GOIÂNIA - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/07/2014

Wagner, me referi exatamente a estes tantos criadores que liquidam seus plantéis e acabam saindo da atividade. Na maior parte das vezes o que ocorre é que em muitos casos falta tecnificação e sobra "sofisticação" no processo produtivo. A atividade não suporta gastos elevados com instalações, animais caros, mão de obra ociosa, falta de escala. Não se pode confundir produtividade com "produtivaidade". Para o produtor eficiente o negócio de produção de leite no Brasil é compensatório

Abraço,.
ANTÔNIO CARLOS DE SOUZA LIMA JR.

GOIÂNIA - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 15/07/2014

Caro Antônio Celso,

Você têm razão quanto a oportunidade para quem produz no Vale. São muitas cooperativas e indústrias próximas aos maiores centros consumidores do país, o que viabiliza a prática de  preços estimuladores ao produtor de leite. Quanto à mão de obra ela pode ser mais otimizada com a mecanização da ordenha que ainda não é uma constante nas propriedades da região.

Concordamos também que ainda tem muita área para intensificar e a proposta do CATI LEITE pode ajudar e muito a otimizar o uso da terra na região, reduzindo custos de produção e elevando a lucratividade.

Abraço,
WAGNER OLIVEIRA SOUZA

SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 15/07/2014

Dr. Antônio,

Porque os produtores especializados desistiram do processo produtivo? Frequentemente assistimos leilões de fazendas com longos anos de seleção genética encerrando a atividade. Será que estavam endividados? O negócio não compensa ou não se pode mais produzir leite em certas regiões do país?

Wagner Oliveira Souza

Santo Antônio de Pádua - RJ
NELSON JESUS SABOIA RIBAS

GUARACI - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 15/07/2014

Prezado Antonio Carlos,

Tenho interesse em fazer contato com voce, se puder me informe seu email atual.

Muito bom o seu relato sobre o mercado de o leite em SP.

Aguardo sua informaçao.

Abraço
ANTONIO CELSO FERREIRA FERRAZ

CACHOEIRA PAULISTA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 15/07/2014

Sou eng. agrônomo da CATI, trabalho com CATI LEITE, produzo leite e concordo com o exposto no artigo... Aqui no Vale do Paraíba, topografia e clima (às vezes frio) dificultam a produção de leite, porém a qualidade das terras (depois de recuperada), número de cooperativas e demais compradores de leite são facilitadores, além do valor de litro de leite que aqui é bom (R$1,10 - 1,30)... Também a mão de obra, mesmo que por vezes desqualificada, existe, ou seja, sempre existe um retireiro... Tem diminuído a m.o., mas ainda existe... Também se intensificando a produção à pasto, sobram áreas para o corte, o eucalipto e outras atividades rurais... Enfim, aqui no Vale ainda tem mais vantagem que desvantagem em produzir leite...
ROMILDO JÚNIOR

NOVA FRIBURGO - RIO DE JANEIRO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 15/07/2014

A.Carlos - excelente matéria. Além da leitura, faço questão de encaderná-las. Tenho certeza que teremos um grande diagnóstico da pecuária leiteira em todo o pais.
ENALDO OLIVEIRA CARVALHO

JATAÍ - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 14/07/2014

Parabéns pelo artigo.

É uma forma de compartilhar seu conhecimento e experiência descrevendo a realidade da pecuária de leite no Brasil. Aguardamos os próximos.

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