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A propósito da produção de leite no Nordeste

POR ORLANDO MONTEIRO DE CARVALHO FILHO

ESPAÇO ABERTO

EM 19/09/2006

6 MIN DE LEITURA

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Quase sempre lembrado por sua calamitosa face subdesenvolvida e com a percepção distorcida dos investidores públicos e privados de sua incapacidade de retornos econômicos sustentáveis, ressalvas feitas a projetos de agricultura irrigada, o nordeste semi-árido tem sido objeto de intervenções paliativas e intempestivas, porém extremamente férteis do ponto de vista eleitoreiro. A cada grande seca, que ciclicamente ocorre, assiste-se a toda sorte de oportunismos políticos, inócuas ações de assistência social, além de propostas tecnológicas milagrosas e impactantes, brotadas de mentes brilhantes de consultores externos.

Não obstante o notável desenvolvimento e a visibilidade da fruticultura irrigada para exportação, o território semi-árido nordestino sempre esteve associado à atividade pastoril, suporte de sua conquista desde os primórdios da colonização e que se constitui, ainda hoje, em atividade economicamente predominante e culturalmente determinante da sua identidade sertaneja. Assim é que nele se encontram a quase totalidade do rebanho caprino brasileiro e as principais bacias leiteiras do NE, cuja produção, predominantemente oriunda de pequenas explorações de base familiar, se reveste de inquestionável relevância socioeconômica. De fato, nenhuma outra atividade assegura os benefícios aportados pela atividade leiteira em uma pequena propriedade - fluxo-de-caixa semanal, menores riscos e alta liquidez do capital imobilizado em animais - sobretudo no semi-árido, onde poucas opções de reconversão econômica são viáveis, face à sua inconsistência climática.

Malgrado os riscos climáticos, sempre presentes e por demais conhecidos, que restringem a sustentabilidade da agricultura dependente de chuvas, e sem considerar a disponibilidade mais barata dos fatores básicos de produção (terra e mão-de-obra de reconhecido valor), existem ainda outras consideráveis vantagens comparativas no ambiente semi-árido para a produção animal em geral e para a bovinocultura leiteira em particular:
  • clima seco, com baixa umidade relativa do ar, favorável à sanidade animal e vegetal, com custos reduzidos para sua manutenção;

  • a baixa umidade relativa do ar favorece, ainda, o resfriamento evaporativo, melhorando as condições de conforto térmico para a vaca leiteira, com repercussões no seu desempenho produtivo e reprodutivo;

  • solos de média a alta fertilidade natural que, se adequadamente manejados, requerem pequeno aporte de fertilizantes, além de permitirem a oferta de forragens de boa qualidade na estação chuvosa que, sendo conservadas, diminuem a necessidade de aquisição de quantidades elevadas de rações concentradas;

  • ainda, por conta do ambiente seco, maior durabilidade das construções rurais, com menores custos de depreciação e manutenção.
Tecnologias que asseguram a sustentabilidade da pequena produção de leite no semi-árido foram desenvolvidas pela Embrapa Semi-Árido e encontram-se disponíveis (www.cnpgl.embrapa.br/) e materializadas em um modelo físico de sistema de produção de base agroecológica, localizado no semi-árido sergipano. Este sistema possibilita a produção sustentável de leite de alta qualidade, com baixa utilização de insumos externos, a baixo custo, e fundamenta-se em:
  • infra-estrutura agrossilvipastoril assentada em espécies nativas e adaptadas ao ambiente semi-árido;

  • diversidade temporal e espacial dos subsistemas cultivados;

  • uso de animais rústicos, geneticamente compatíveis com o ambiente;

  • manejo que assegura o bem-estar animal;

  • práticas de conservação de forragem: ensilagem e fenação;

  • reciclagem de resíduos vegetais p/animais e de resíduos animais p/cultivos;

  • métodos preventivos e uso de produtos e processos naturais nos controles fito e zoosanitário;

  • recomposição da biodiversidade, com ênfase no componente arbóreo em reflorestamentos, arborização de pastagens, cultivos em alamedas, cercas vivas forrageiras e outros sistemas agroflorestais.
A despeito disso, a grande maioria dos pequenos produtores ainda sobrevive do usufruto da baixa oferta ambiental, em um processo de exploração progressiva e inadequada dos recursos naturais e de sua própria mais valia, ora socorrida por políticas sociais compensatórias - leia-se esmolas governamentais - porém tolhida na possibilidade de poder dispor de sua mão-de-obra familiar, (o PETI não permite o uso da mão-de-obra juvenil) que lhe permitiria alguma competitividade na exploração leiteira. Portanto, não parece haver maiores perspectivas de sustentabilidade no horizonte.

Neste contexto, sem escala de produção e sem condições de assalariamento, premido pela necessidade de maior produtividade para fazer face à progressiva fragmentação fundiária, recorrem às tecnologias "modernas", copiando modelos importados de regiões mais favorecidas. Abandonam o uso da tração animal, que limitava a área de solo movimentada a cada ano, e que impunha certa rotação de terras, pela tratorização terceirizada com grades aradoras, aumentando excessivamente a movimentação do/e sobre o solo: em geral rasos e com baixos teores de matéria orgânica. Esse processo não só permitiu expressivo aumento da área plantada com o milho - possibilitado também pelo desenvolvimento de cultivares de ciclo curto - como trouxe o uso descontrolado de herbicidas de alto poder residual (Picloram+ 2,4 D). Somada a isso, a fragilização dos rebanhos, resultante da utilização de animais com alta mestiçagem da raça holandesa, implicando no uso desregrado de pesticidas e antibióticos, tem levado a sinais já perceptíveis de degradação ambiental e de contaminação alimentar que, ao lado de outras ameaças, configuram um quadro de comprometimento da sustentabilidade da cadeia produtiva do leite, conforme ilustrado na figura 1 para o sertão sergipano, que se repete em outras regiões semi-áridas nordestinas.

Figura 1. Ameaças à sustentabilidade da cadeia produtiva do leite no sertão sergipano.

Este paradigma produtivista, em busca da produtividade a qualquer custo, gerando elevado passivo sócio-econômico e ambiental, em um processo de intensificação injustificado - o NE possui a maior população rural do país e baixos preços de terra - possivelmente acontece por orientação técnica equivocada, e/ou por pura imitação de regiões mais favorecidas, que por sua vez o imitam de paises desenvolvidos, onde pequeno número de produtores precisa produzir de forma intensiva, porém subsidiada. Se terra e mão-de-obra não são os fatores de produção mais escassos, porque perseguir altos níveis de produtividade por hectare, ao invés da produtividade por capital investido ou por milímetros de chuva, que são os fatores de produção mais limitantes no semi-árido nordestino? Portanto o não alcance dos índices de produtividade obtidos em regiões favorecidas, sempre citados como padrões a serem atingidos, não deveria ser razão para qualquer tipo de percepção de inferioridade entre nordestinos. Quando ajustadas as produtividades elevadas de leite/ha do centro sul (sem irrigação) por milímetros de chuva, por exemplo, verifica-se que não se é tão ineficiente quanto se pensa. O que deveria contar é o custo de produção de leite e sua melhor qualidade, para inserção competitiva no mercado.

De outro lado, tangenciada na discussão da qualidade do leite, há o lado obscuro da contaminação causada pela aplicação indiscriminada de pesticidas usados na pecuária leiteira - ecto e endoticidas cada vez mais freqüentes e menos eficientes, por conta da progressiva resistência aos princípios ativos utilizados. A normativa 51 toca muito de passagem neste tema, não o regulamentando da maneira que o faz quanto à qualidade bacteriológica, à CCS e aos resíduos de antibióticos, "coincidentemente" relacionados com perdas industriais. Pouco tem sido feito para se conhecer esse lado da questão, certamente porque laboratórios e esses tipos de análises toxicológicas custam muito caro, inviabilizando pesquisas nesta área, porém mais provavelmente pelo desinteresse de todos os agentes da cadeia produtiva em um problema que ainda não lhe causa perdas econômicas. Como o consumidor médio brasileiro tem uma percepção ingênua da qualidade dos lácteos, parece óbvio que nada será feito nessa direção salvo se as perspectivas de exportação, principalmente para a União Européia, despertem, a exemplo da carne, para a implementação do programa de controle de resíduos e revelem a gravidade do problema, que certamente não será fácil resolver, tamanha a dependência desses insumos em nossa agropecuária: aliás, um mercado bastante atraente, quarto maior no mundo em agrotóxicos, com um movimento de quase US $ 1,5 bilhão ao ano.

Assim, enquanto a lógica "modernizante" da cadeia produtiva do leite ameaça excluir, de forma crescente, uma parcela incomensurável de produtores do setor formal, a produção ambientalmente mais amigável e mais "limpa", com certificação de origem, demandada por mercados mais exigentes, surge como oportunidade, sobretudo para a produção familiar e particularmente no semi-árido, onde seria possível, com seu clima seco e outras vantagens comparativas, produzir leite e derivados com alto valor agregado.

ORLANDO MONTEIRO DE CARVALHO FILHO

Engenheiro Agrônomo, Pesquisador Aponsentado da Embrapa

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LUIZ MIRANDA

SALVADOR - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 03/03/2013

Caro Orlando, sua abordagem foi perfeita. O Nordeste tem suas características próprias e, na Bahia eu atribuo a dois fatores básicos: a indústria (laticínios e entrepostos de recepção de leite) e a raça Girolando que hoje é responsável por 85% do leite produzido no país. 

Mas o que mais me agradou é que crescemos porque estamos encontrando o caminho para o Nordeste e não se caracteriza como voo de galinha.



Luiz  Miranda

Diretor de Pecuária  da SEAGRI - Bahia
MANOEL PEREIRA NETO

NATAL - RIO GRANDE DO NORTE - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 26/09/2006

Parabéns Orlando. Este tipo de discussão precisa ser ampliado, pois existe, de fato, retorno financeiro com leite no semi-árido nordestino em explorações que, principalmente, respeitam e adequam seus manejos ao ambiente que se encontram.
ANDRÉ GAMA RAMALHO

BATALHA - ALAGOAS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/09/2006

Parabéns Orlando,

Trabalho como o seu, comprova a viabilidade do Nordeste. Em nosso estado, Alagoas, a pecuária de leite (produção diária de 500.000 l/dia) é a 2ª atividade agropecuária, e a palma forrageira a 2ª cultura em área plantada.

O que precisamos é tratar de nossa atividade com profissionalismo, e não como "coitados". Uma câmara setorial, onde participariam produtores, laticínios e governo seria um caminho.

André Gama Ramalho
Pres. Sindileite
ORLANDO MONTEIRO DE CARVALHO FILHO

ARACAJU - SERGIPE

EM 23/09/2006

Agradecendo pelos comentários, entendo que o texto do brilhante zootecnista Vaz Portugal, transcrito abaixo (grifos meus), traz lucidez ao tema, sob todos os aspectos abordados:

"Reforça-se a idéia de dobrar a produção de alimentos de origem animal atual nos próximos 20 anos, face à duplicação previsível da população humana nos próximos 50 anos. Ao mesmo tempo a competitividade da produção, face à comercialização em mercados abertos, exige o aumento da eficiência produtiva. Teremos assim o <b>incremento da produção massal de alimentos de origem animal, originados em sistemas intensivos </b>de produção. Para este aumento da eficiência biológica muito contribuirá a aplicação de novas tecnologias em produção animal, responsáveis por custos de produção mais baixos e competitivos.

Nos domínios metabólico, genético, reprodutivo e produtivo, novas técnicas, quando não ponham em causa a saúde pública e eticamente sejam aceitas pelo consumidor, permitirão aplicar no próximo século, e nos sistemas de produção intensiva, outras técnicas de produção. O melhoramento genético e produtivo permitirão atingir níveis de eficiência produtiva (mais produto por unidade de alimento ingerido), responsáveis por custos de produção mais baixos. São tecnologias que <b>visam a produção massal de alimentos de origem animal, diluindo os custos com a manutenção do animal</b>. São sistemas intensivos de produção animal.

Por outro lado, há outra forma de produzir alimentos de origem animal, <b>desenvolvendo sistemas de produção natural ou extensiva, que defenderá as qualidades genuínas do produto animal</b>. O melhoramento produtivo, neste caso, deve tornar mais eficiente o sistema sem, contudo, alterar as características do produto final. Estas condicionarão a inovação tecnológica a aplicar na produção animal natural. <b>Os custos de produção mais elevados </b>poderão ser compensados pelo valor agregado a obter pela venda destes alimentos, ou pela <b>necessidade política sentida de produzi-los</b>.

Há, assim,<b> formas diferentes de produzir o mesmo alimento, conduzindo o consumidor a escolher</b>. A produção intensiva e a produção natural são sistemas complementares de produção animal, cuja produção e distinção entre os mesmos produtos terá de ser regulamentada, coordenada, melhorada e defendida a sua origem e genuidade. A Imagem Pública da produção animal terá de ser defendida através da formação da opinião do consumidor.

A estrutura produtiva deve preocupar-se com <b>a saúde pública e ambiental e o bem-estar animal. Indústria animal e Produção Natural coabitam o mesmo espaço </b> e produzem alimentos variados que o homem pode escolher. Trata-se de uma <b>produção massal (sistemas intensivos) e uma produção de oferta limitada (produção natural)</b>, esta feita com o recurso local, a raças autóctones e alimentos de composição nutritiva com reflexos nos flavores do produto final.

O esforço e a eficiência de produção conduzirão, por outro lado, à evolução da animalicultura que assentará as suas raízes na evolução do <b>conhecimento científico e na aceitabilidade pública da aplicação de novas tecnologias</b>, passando do animal modelo ao animal molécula, assente na identificação e expressão do DNA. Há que produzir com competitividade, produzir de formas diferentes, oferecer alimentos de características diversas, defender a natureza do que se vende na etiqueta e, por outro lado, saber comercializar. Mas, acima de tudo, e em todas as circunstâncias, <b>há que saber produzir</b>." </i>

Em adição, permito-me posicionar, como técnico e produtor natural (https://www.fazendaacaua.com.br/), entre os que ainda consideram a vaca leiteira como herbívoro ruminante, basicamente transformador de forragens em proteína de alta qualidade biológica e etologicamente um pastador, condição crucial de seu bem-estar.

Renovo, ainda, minha percepção de que a pequena escala poderia optar pela produção natural, a qual necessita do conhecimento científico que a fundamente e de políticas publicas que a apóiem, vez que não pode ser importada e/ou adquirida pronta, ou ainda reproduzida em série, posto que é arte, muito menos abstraída do efeito do ambiente local, que confere identidade do produto final.

Por fim, quem sabe se em 2015 (à taxa de crescimento da consangüinidade de 0,727 ao ano), quando só existirem 66 indivíduos realmente diferentes na raça Holstein (1), lembremo-nos da extinção do menosprezado curraleiro nordestino e de outras raças "desinteressantes". Vive la diference!

(1) Sistemas de produção de alimentos de origem animal no futuro
Disponível em: https://www.fmv.utl.pt/spcv/edicao/6_2002/502_63_70.htm .
HAAN, C.; STEINFELD, H. & BLACKBURN, H. Livestock & Environment: finding a balance.
Disponível em: https://www.fao.org/docrep/x5303e/x5303e00.htm
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/09/2006

Prezado Orlando,

Discordo, infelizmente, de seu ponto de vista, contrário às adaptações tecnológicas do ambiente para torná-lo menos hostil à exploração humana. Assim não fosse, não encontraríamos seres humanos nas regiões mais inóspitas do planeta.

O Nordeste brasileiro é viável para a exploração leiteira, tanto quanto o Sudeste ou o Sul, desde que utilizadas fontes de produção conscientes e bem estruturadas. Destarte, a implantação de um criatório de Gado Holandês nas regiões de clima árido é alvissareira, por alguns aspectos que reclamam ser descortinados.

O primeiro deles, reside no fato de que, atualmente, a planta leiteira de alta produtividade passa, de forma inevitável, pela estabulação dos animais (mesmo nos locais em que as condições climáticas não são tão acentuadas, como no Sudeste e no Sul), já que, a pasto, dificilmente uma vaca produzirá sessenta litros de leite por dia, o que reduz o impacto do ambiente nas condições de conforto térmico e sanitário dos mesmos, impedindo que as variações meteorológicas influenciem na produção, em face do uso de sistemas de refrigeração, umidificação do ar, entre outros.

O segundo deles, é que a produtividade sempre foi o marco a ser perseguido, em qualquer atividade humana, mormente na agropecuária, em que grãos e animais têm que fornecer o retorno necessário aos investimentos aplicados ao setor, não sendo novidade a persecução de patamares cada vez mais altos em termos de colheita e lactação.

Quanto aos impactos ambientais da criação, estes são sempre reduzidos pela técnica de implantação dos sistemas e os pesticidas, necessários ao seu implemento, também o seriam na atividade rústica (talvez até em maior escala nesta), onde o gado da região fosse aproveitado, porque o carrapato, por exemplo, ataca tanto o gado europeu quanto o doméstico.

Quanto à idéia do Leovegildo, lembro a ele que, se nós queremos criar uma bacia leiteira, temos que utilizar animais grandes produtores de leite e, desculpe-me a franqueza, o "curraleiro nordestino", neste diapasão, não pode competir com as vacas holandesas, reconhecidamente as mais produtivas do mundo.

Finalmente, o que se pretende do Nordeste é, pelas facilidades de exportação, representadas pela menor distância da Europa e países da América do Norte, que seja um pólo exportador de produtos lácteos para estes centros consumidores, o que só se conseguirá se a produtividade for alta.

O terceiro é que a produção comercial de leite, hodiernamente, passa pelo grande produtor, capaz de reduzir os custos da mesma e transformar ambientes em qualidade e volume do produto, fator, aliás, que não atinge só o Nordeste, mas todo o mundo civilizado, e cuja tendência é de exclusão do pequeno, pouco possibilitado a se adaptar às exigências do mercado.
PAULO JOSÉ THEOPHILO GERTNER

LAURO DE FREITAS - BAHIA

EM 20/09/2006

Caro Orlando,

Devemos nos lembrar de raças leiteiras, como a Guzerá e a Sinde, perfeitamente adaptadas a essas condições edafo-climáticas. Capazes de produzir 6 litros/dia em nível de campo, nestas condições, resistentes aos poucos endo e ectoparasitos que acometem os bovinos no parco período chuvoso.

Essa linha de raciocínio vai tomando forma, e agora com meios de comunicação como este espaço, e com a participação dos abnegados pesquisadores desse nosso sertão, talvez consigamos ser ouvidos.

Precisamos envolver jovens pesquisadores, estudantes, produzir dados e números, leva-los a seminários, congressos, unidades demonstrativas de modo que a realidade mude.

Que o sertão aconteça.
RODRIGO GREGÓRIO DA SILVA

LIMOEIRO DO NORTE - CEARÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 20/09/2006

Parabens pelo relato. Concordo que na maioria das vezes os modelos (físicos) de produção adotados não foram eficientes quanto aos seus objetivos. Essa linha de estudo comentada faz parte de meus questionamentos atuais.

E o dos que ainda não encontrei resposta é o que fazer (os produtores) até que esse seu produto de qualidade e portador de potencial de produção de alimentos diferenciados sejam assim reconhecidos e remunerados como tal.

Outro ponto é a existência de sistemas de produção conduzidos por produtores de leite, cujo capital empregado seja de sua propriedade e possuidores de uma produção estável ao longo em alguns anos, especialmente o de pouca precipitação. E se esses sistemas são avaliados, levando-se em consideração o capital empregado em terra e cercas?

Muitos desses comentários são fruto de dúvidas que chegam por meior de terceiros ou de meus pensamentos, cujo maior objetivo é somente conhecer sistemas de produção de leite a pasto, de baixo custo, nas condições de semi-árido, sem que seja necessário a compra de alimentação nos anos de escassez, e que demonstrem ser viáveis economicamente nos dias de hoje, pois amanhã necessita-se de comida, roupa, lazer.
LEOVEGILDO LOPES DE MATOS

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 20/09/2006

Parabéns Orlando, "Pesquisador do Semi-Árido", colocastes de forma muito clara o que tem acontecido com a produção pecuária no semi-árido.

Na busca desenfreada pela elevada produtividade, assistimos essas absurdas importações, freqüentes e constantes, de animais de raças européias, que insistem em morrer, ou não conseguem se reproduzir nesse ambiente, levando os "pecuaristas" a buscarem novas importações do Sul ou Sudeste do Brasil, ou do Uruguai e Argentina, em detrimento de animais adaptados, como o "Curraleiro Nordestino", que já provou ser um animal que "aceita" viver e criar seus descendentes aí, deixando ainda algum excedente de leite e carne, de excelente qualidade, para viabilizar economicamente sua criação.

Tudo isso é esquecido na busca dessa produtividade e escala de produção, que além da inviabilidade econômica dos pecuaristas, levam um recurso genético importante para a lista dos ameaçados pela redução populacional. Do Semi-Árido não podemos esperar o abastecimento dos mercados com "commodities" como leite em pó, longa-vida ou mussarela, mas fonte de um leite pasteurizado com qualidade e segurança ao consumidor, um bom queijo de coalho e a famosa "manteiga de garrafa", para mostrar a quem nunca provou essa maravilha com feijão-verde, carne-de-sol ou uma costela de bode, porque Deus nos permitiu o privilégio de passar por esse mundo.

Abraços,

Leovegildo

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