Marco Antônio Pereira da Silva, Zootecnista, Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano - Campus Rio Verde
Givanildo de Oliveira Santos, Educador Físico, Aluno do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano
Jéssica Silva Medeiros, Aluna do Curso de Bacharelado de Engenharia de Alimentos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano
Pamella Cristina Teixeira, Médica Veterinária, Aluna do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano
Ruthele Moraes do Carmo, Zootecnista, Aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Federal de Goiás
Com a constante oscilação do preço do leite, pequenos produtores podem vislumbrar na produção artesanal de derivados lácteos uma alternativa para a comercialização e agregação de valor aos produtos.
Partindo do pressuposto, existe uma gama de derivados que podem ser processados a partir do leite, com destaque aos queijos, sejam estes com e sem condimentos, queijos curados, queijos muçarela nas diferentes versões: trança, palito ou nozinho, além do doce de leite pastoso ou de corte, requeijão de corte e manteiga, derivados estes que não demandam de grandes tecnologias para o processamento, e, portanto, artesanalmente são uma alternativa para exploração.
Tratando especificamente dos queijos, a produção artesanal se destaca em diferentes regiões do Brasil. O queijo artesanal Serrano é produzido nos campos de altitude, no Sul do Brasil, o queijo colonial artesanal, também é da região Sul do Brasil, produzido e comercializado no oeste do Estado de Santa Catarina. Minas Gerais possui cinco tradicionais regiões produtoras de queijos Minas artesanal: Serro, Serra da Canastra, Cerrado, Araxá e Campos das Vertentes. Já o queijo Coalho é produzido há mais de 150 anos, em vários Estados da região Nordeste do Brasil. A maioria desses queijos tem base nos históricos tradicionais de produção das queijarias mineiras, que difundiu pelo vasto território brasileiro a base para a produção artesanal.
Paulo Matos afirma que o queijo artesanal é produzido com foco na qualidade, baseado em históricos-tradicionais e de inovação, sem uso de automação no processamento, elaborado por pessoas que possuam conhecimentos envolvidos nas diferentes etapas produtivas e que utilize até 5.000 litros de leite por dia na produção desses queijos. Cristina Zaffari aponta que os queijos coloniais auxiliam na sustentabilidade das famílias, em especial para os proprietários das agroindústrias, em que parte da renda familiar depende dessa atividade.
Mas a propósito, qual o grande entrave na produção de queijos artesanais? É simples a resposta, de 2002 a 2018, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) tem promulgado legislações que regulamentam a produção de leite no Brasil, portanto, desde a propriedade rural até a indústria beneficiadora existe uma infinidade de determinações que devem ser seguidas pelas indústrias para que o processamento do leite e derivados não ofereça riscos ao consumidor.
O Mapa a partir de 2019 passou a considerar a produção artesanal de queijos como os produtos elaborados por métodos tradicionais, com vinculação e valorização territorial, regional ou cultural, conforme protocolo de elaboração específico estabelecido para cada tipo e variedade. Os estabelecimentos rurais devem ser certificados como livres e/ou controlados de tuberculose e brucelose por órgão estadual de defesa sanitária animal, possuir programa de controle de mastite, análise periódica do leite da propriedade, implantar programa de boas práticas agropecuárias na produção leiteira orientados por entidades de defesa sanitária e de assistência técnica e extensão rural, além de, implementar a rastreabilidade dos queijos artesanais.
Pensando em auxiliar os produtores a deixarem a clandestinidade, o presidente brasileiro assinou decreto que regulamenta o Selo Arte, permitindo assim a venda interestadual de queijos, mel e embutidos. O produto artesanal terá identificação no território nacional, pelo selo único com a indicação Arte. Dessa forma, deverão ser empregadas boas práticas agropecuárias e de processamento, desde que esses produtos sejam submetidos à fiscalização de órgãos de saúde pública.
Seguindo as recomendações e os procedimentos de manipulação higiênico-sanitários, o pequeno produtor pode ter na atividade de produção artesanal de queijos um futuro promissor, o resgate e a manutenção dos métodos tradicionais de produção, tem sido valorizados atualmente diante da vasta oferta de produtos industrializados, além disso o leite proporciona a fabricação artesanal de queijos com uso reduzido de insumos. Com a oferta dos queijos artesanais em períodos de entressafra o produtor poderá obter melhores ganhos na atividade artesanal.
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