Entrevista concedida pelo Prof. Dr. Iveraldo Dutra à Vallée S.A, enfocando o estágio atual do conhecimento técnico e científico sobre as vacinas e as vacinações no controle das clostridioses. A entrevista foi dividida em 5 partes.

O Prof. Dr. Iveraldo Dutra é Professor Titular da Disciplina de Enfermidades Infecciosas dos Animais, Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba, Universidade Estadual Paulista, Araçatuba, SP.

Vacinar vacas gestantes traz benefício para imunidade passiva? Quando deve ocorrer esta vacinação?

Iveraldo Dutra: Sem dúvida alguma que sim. Aqui voltamos aos conceitos tradicionais em que sempre se preconiza vacinar fêmeas prenhes com duas doses de vacina: aos 45 e 15 dias antes do parto. A impossibilidade prática de operacionalizar esta medida na pecuária extensiva coloca-nos num dilema: vacinar conforme manda os preceitos técnicos ou não vacinar. Diante da falta de alternativa, normalmente os produtores simplesmente não efetivam qualquer ação com este objetivo.

Em estudos recentes foi evidenciado que a imunização de vacas (com duas doses de vacinas contra clostridioses) em diferentes estágios de gestação foi efetiva na passagem de anticorpos (contra o Clostridium chauvoei e também contra as toxinas botulínicas C e D) aos seus bezerros. Bezerros que nasceram até 130 dias após a vacinação das mães ainda receberam quantidades significativas de anticorpos colostrais, detectados por meio da sorologia com o emprego do teste de ELISA.

De qualquer maneira é sempre desejável que quanto mais próximo do parto as vacas forem vacinadas, mais satisfatória é a imunidade colostral para o botulismo. Esta preocupação não é necessária para o carbúnculo sintomático.

Esta imunidade que é transferida permanece por quanto tempo no bezerro?

Iveraldo Dutra: Em estudos da cinética imune passiva de bezerros, filhos de mães vacinadas contra o botulismo e carbúnculo sintomático, foi possível verificar que oscilou em até 45 dias para o botulismo C e D e pelo menos até 90 dias no caso do carbúnculo sintomático.

Convém vacinar os bezerros filhos de mães vacinadas e que receberam o colostro, logo no primeiro mês de vida?

Iveraldo Dutra: Faz parte das nossas recomendações vacinar os bezerros somente após os 4 meses de idade. Antes disso, existe o risco real desta vacinação precoce neutralizar qualquer efeito dos anticorpos colostrais. Temos registrado diversos episódios graves de mortalidade por carbúnculo sintomático em bezerros após a adoção deste esquema de vacinação. Dessa maneira, temos que reformular também nosso critério de orientação aos produtores que ainda empregam este modelo.

Bezerros filhos de vacas gestantes vacinadas devem receber a 1ª dose da vacina com quanto tempo de vida? E o reforço vacinal, deve ocorrer quando?

Iveraldo Dutra: Bezerros devem ser primo-vacinados aos 4-5 meses e o reforço vacinal vai depender da conveniência do produtor, do objetivo do programa e de qual(is) clostridiose(s) se quer inicialmente priorizar. Se considerarmos inicialmente a importância da imunidade contra a manqueira, existem duas alternativas: a convencional, com reforço 30 dias após, e a estratégica, após desmama dos animais.

Em estudo recentemente publicado pela nossa equipe foram avaliados três protocolos experimentais para o esclarecimento dessa questão do reforço vacinal em bezerros após primo-vacinação. Um lote de animais foi vacinado aos 4 e 8 meses (desmama), outro na desmama e trinta dias após e um lote recebeu dose única após desmama. Com base na resposta sorológica dos bezerros vacinados com o produto comercial polivalente, pôde-se evidenciar que a primo-vacinação aos quatro meses de idade e reforço vacinal na desmama equivale ao esquema preconizado pelos fabricantes de produtos e é significativamente superior ao praticado nos sistemas de produção. Em uma análise inicial, além de facilitar o manejo sanitário preventivo na pecuária extensiva e o fato de ser uma informação inédita para as vacinas refrigeradas, esse esquema vacinal (4 e 8 meses) mostrou-se superior quando os animais foram avaliados 30 dias após o reforço.



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